Entrevista com Pierre Lévy – Inteligência coletiva digital: os primórdios de uma revolução antropológica?

No dia 03 de dezembro, realizamos a última entrevista internacional do Ciclo de Humanidades 2020, feita no contexto do nosso encontro “Bem vindos à humanidade digital?”. O entrevistado foi Pierre Lévy, que é um sociólogo, filósofo e pesquisador em ciências da informação e comunicação (CIS) que investiga desde finais dos anos 1980 o impacto da Internet sobre a sociedade, o conhecimento, a inteligência e a cultura.

Com grande satisfação, publicamos hoje esta entrevista com legendas em português. A entrevista pode ser assistida no canal do Escritório do Livro. Nestes 40 minutos de agradável diálogo, temos a possibilidade de conhecer o itinerário de pensamento de Pierre Lévy e, ao mesmo tempo, refletir sobre a natureza e as potencialidades da digitalização do mundo.

Em conjugação com esta entrevista, traremos amanhã no site do Ateliê de Humanidades um Pontos de Leitura (https://ateliedehumanidades.com/category/pontos-de-leitura/) que apresenta quem é Pierre Lévy e expõe sua bibliografia com comentários. Publicaremos também, em seguida, no Fios do Tempo, um artigo do autor inédito em português.

No início de 2021 trataremos na mesma dinâmica, quinzenalmente, as demais entrevistas legendadas em português do Ciclo de Humanidades 2020, com Serge Paugam, Jean-Louis Laville, Françoise Vergès, Jean-Yves camus e François Dubet. Nos acompanhe 😉

Perguntas

1. Vamos começar falando um pouco sobre sua trajetória de pesquisa e seus interlocutores intelectuais. De fato, a tradição francesa sobre técnicas e tecnologia é uma das mais fecundas do século, reunindo autores como Marcel Mauss, André Leroi-Gourhan, Michel Serres, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Gilbert Simondon, Régis Debray, Bernard Stiegler etc. Creio que você é um dos representantes legítimos desta tradição, tendo também passagens inesperadas na tradição filosófica medieval e obras de autores singulares como Teilhard de Chardin. Antes de mais nada, você pode nos dizer onde você se situa? E como as tradições de pensamento se traduzem em pesquisas pioneiras sobre o impacto da Internet e da cibercultura no conhecimento, no pensamento, na cultura e na democracia?

2. Já na transição dos anos 80 para os anos 90, você acompanhou a ascensão da Internet, da cultura digital e do ciberespaço e seus efeitos no pensamento, tendo publicado trabalhos como A máquina universo (1987), Tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era digital (1990), Ideografia dinâmica: rumo a uma imaginação artificial?(1992) e Inteligência Coletiva: Para uma Antropologia do Ciberespaço (1994). Um conceito inicial, que será central para todo o seu trabalho, é o de “inteligência coletiva”. Você poderia nos dizer o que é “inteligência coletiva” e como ela evoluiu até a nossa chegada na era do meio e médium algorítmico?

3. Eu o considero um pensador otimista e propositivo. Seus trabalhos expressam as promessas de emancipação humana e a democratização do conhecimento e da cultura que estão na origem da Internet e da cibercultura. De fato, muito aconteceu nos 30 anos que você acompanhou de perto. Hoje, prevalece um clima de desencanto geral, com grande atenção aos efeitos perniciosos da Internet e das redes sociais sobre a cultura, a esfera pública e a democracia. Hoje, quando se trata do futuro digital do ser humano e da sociedade, somos imediatamente remetidos a fake news e populismos, à ciberguerra e à hipervigilância, à fragmentação cultural e a linchamentos virtuais, ao desemprego em massa e ao desapossamento da inteligência, à mercantilização da informação e à hiperconcentração corporativa, etc. Bem, você, que é um intérprete de uma cibercultura prometida à ciberdemocracia, que a vê prometida a uma inteligência coletiva ampliada, reflexiva e democratizada, como você interpreta este processo?

4. Acredito que tudo isso nos leva a propostas concretas para o desenvolvimento de plataformas e ferramentas que tornem possível uma inteligência coletiva democrática. Nos últimos anos, você tem se dedicado à criação de uma Meta-Linguagem de Economia da Informação (IEML). É verdade que há muitos detalhes técnicos nos quais não podemos entrar em detalhes. Entretanto, você poderia nos dizer quais são os objetivos do projeto e em que estágio ele se encontra? E também poderia nos fazer entender a importância da metalinguagem e da semântica para a constituição de um bom ecossistema de ideias?

5. Para concluir, acredito que chegamos a uma confluência entre o surgimento da “humanidade digital” e a urgência das “humanidades digitais”. Em outras palavras, a digitalização dos processos cognitivos e sociais está nos trazendo uma revolução na produção do conhecimento nas ciências humanas. Qual seria essa forma de conhecimento, chamada por muitos de “humanidades digitais”? Como elas se relacionariam com os objetivos do pensamento crítico autônomo e ético, bem como com os objetivos de uma cultura criativa e democrática?


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