O Ciclo de Humanidades: ideias e debates em filosofia e ciências sociais é realizado desde 2019 em uma parceria entre o Ateliê de Humanidades e o Escritório do Livro da Embaixada da França no Brasil & BiblioMaison. Já foram realizados, desde então, 33 encontros com distintos temas (10 em 2019, 8 em 2020, 8 em 2021 e 7 em 2022) e 15 entrevistas com autores francófonos: Serge Paugam, Jean-Louis Laville, Françoise Vergès, Jean-Yves Camus, François Dubet, Pierre Lévy, Frédéric Worms, Nathalie Heinich, Dominique Lestel, Jean-Michel Besnier, Séverine Kodjo-Grandvaux, André Comte-Sponville, Marcel Gauchet, Loïc Blondiaux. Além disso, tivemos participações de autores francófonos em encontros de 2023: Pierre Rosanvallon, Alain Caillé, Geneviève Azam e Edith Planche.
O Ciclo de Humanidades 2023 será dividido em duas rodadas.
Na primeira rodada (mai.-jul.), Memórias para um futuro, realizamos três encontros que entrelaçam reflexões em torno da memória em suas relações com a história, a culpa, o testemunho, o esquecimento, a narrativa e a formação humana.
Na segunda rodada (set.-nov.) O artesanato do viver, realizamos três encontros que refletem sobre o que podemos chamar de “métiers de vie“, abordando-os por três aspectos: o artesanato como modo de vida; o cultivo do senso prático; e ter o cuidado do lar.
Evento gratuito e híbrido
Tradução simultânea
Quando ocorre?
Toda última quinta-feira do mês
Que horas?
Entre 16h e 18h
(Fique atento! Horário vai variar em função da presença virtual de autores/as francófonos/as)
Como assistir?
O Ciclo de Humanidades 2023 será em formato híbrido sucessivo, ou seja, a realização do encontro será, primeiramente, no formato presencial e, posteriormente, iremos disponibilizar a gravação do encontro em nossas redes digitais.
Onde assistir presencialmente?
Espaço físico da BiblioMaison (Av. Pres. Antônio Carlos, 58 – 11° andar – Centro, Rio de Janeiro)
Primeira rodada – Memórias para um futuro
1o encontro (25 de maio)
O que não podemos esquecer? Usos e abusos da memória

Por que lembrar? Por que guardar e narrar memórias? O que não podemos esquecer e o que, ao contrário, convém ser esquecido?
Existem muitas formas de cultivar a memória. Chegou-se, mesmo, a desenvolver na história uma “arte da memória”. No mundo moderno, as memórias do indivíduo e da coletividade foram muito valorizadas. Essa questão ganhou contornos dramáticos no século XX devido às violências ditatoriais e totalitárias. Com o recuo das ditaduras, a consolidação dos direitos humanos e a ascensão de críticas pós-coloniais, muitos passaram a defender um “dever de memória”, pois há crimes que devem ser nomeados, recontados e responsabilizados. Seria o caso, então, para alguns, de “nem esquecer, nem perdoar”, mas “culpar, castigar e punir”. Mesmo que seja necessário algumas vezes, há também os abusos da memória e as demandas de esquecimento. Nem tudo devemos lembrar, nem tudo podemos esquecer. Por isso, a arte do esquecimento é tão importante quanto as artes da memória.
Em diálogo com autores como Friedrich Nietzsche, Frances Yates, Paul Ricoeur, Tzvetan Todorov, Hannah Arendt, Pierre Vidal-Naquet e Catherine Coquio, o primeiro encontro do Ciclo de Humanidades 2023 se dedica a conversar sobre os usos e abusos da memória e do esquecimento.
2o encontro (29 de junho)
A literatura na sociedade do esquecimento

Como mostrou François Hartog, vivemos em um regime de historicidade “presentista”; poderíamos dizer, também, com Andreas Huyssen, que se trata de uma “cultura da amnésia”. Nossa “sociedade do esquecimento” muda a forma como lidamos com a memória, a narrativa, a escrita, e, enfim, com nós mesmos e o mundo. Neste segundo encontro, vamos refletir sobre o lugar da literatura, da leitura e da escrita nesta forma de sociedade. Como a literatura contemporânea expressa as transformações da memória? De que modo a escrita pode apontar para uma política de memória associada, de algum modo, a uma formação de si?
3o encontro (27 de julho)
A vergonha pode salvar o mundo? Testemunhos para o futuro

A vergonha é difícil de esquecer, mas ninguém gosta de lembrar. Em uma sociedade que promete que tudo é não apenas possível, mas também permitido, qual seria o lugar da vergonha como sentimento moral e político? Pode a vergonha – e o pudor – ser um ato de resistência, e mesmo de emancipação individual e coletiva?
Vamos dialogar três publicações fomentadas pelo PAP Drummond: A vergonha, de Annie Ernaux; A vergonha é um sentimento revolucionário, de Frédéric Gros; e Os condenados da terra, de Frantz Fanon. Indo na esteira do debate pós-colonial, que recupera as memórias do racismo, da escravidão e da colonialidade, nos interrogaremos partindo da provocação de Sartre feita no prefácio a Damnés de la terre de Fanon: “Tenha a coragem de lê-lo: por essa primeira razão que você terá vergonha, e a vergonha, como diz Marx, é um sentimento revolucionário”. Ter a coragem de olhar em face o que envergonha; ter o pudor de não se permitir tudo; e ter a força vital de responder àquilo que repulsa.
Segunda rodada – O artesanato do viver
4o encontro (28 de setembro)
O artesanato como modo de vida
Nas sociedades industriais e de mercado, o artesanal parecia relegado ao passado, pois era prometida à atualidade uma lógica universalizadora de padronização, serialidade e massificação. Contudo, em nossas sociedades pós-industriais, não apenas as antigas práticas artesanais continuam tendo seu lugar, como também a lógica do artesanal mostra ser mais que uma forma de fabricar objetos; ela é um modo de se relacionar com as coisas, com as pessoas, com o espaço-tempo e com o próprio mundo: o artesanato é um modo de vida.
Nos ateliês, os artesãos tecem em conjunto as coisas, as ideias, os corpos e as relações, numa atividade expressiva de si mesmo em relação com as coisas e as pessoas. Ao se apoiar no cuidado da coisa, na perícia do fazer, na qualidade do processo, no tempo próprio do fabricar e na ética do trabalho bem feito, a lógica artesanal permite conjugar, nas diversas esferas da vida, o que o mundo moderno dissociava: os sujeitos e as coisas, os corpos e as ideias, o tempo e a vivência, o trabalho e o prazer, a produção e o existir. Em diálogo com autores como Hannah Arendt, Richard Sennett, Domenico di Masi, Arthur Lochmann (autor de La Vie solide: La charpente comme éthique du faire, Payot, 2021) e Sophie Boutillier (autora, dentre outros, de Traité de l’artisanat et de la petite entreprise, organizado com Michel David e Claude Fournier, e de L’artisanat et la dynamique de réseaux), comporemos uma mesa com pessoas que pensam e vivenciam a lógica do artesanato.
5o encontro (26 de outubro)
Cultivar o senso prático
Como parte de um artesanato como modo de vida, somos artesãos de nossos corpos, seres e existências. Para tornarmos o que somos, para fazer o que fazemos, precisamos nos exercitar, construir hábitos, trabalhar sobre nós mesmos, a fim de nos esculpir segundo as ideias que temos do que somos e queremos fazer nos mais diversos aspectos: corpo, mente, afetos, relações, trabalho, criação. Nosso foco sobre o artesanato do viver envolve, portanto, a centralidade da formação de si e a produção de uma relação rica com os outros.
Como bem mostraram os gregos e helenistas, como Aristóteles, os estóicos e epicuristas, uma boa vida depende do cultivo de um senso prático, o que demanda um trabalho e exercício sobre si mesmo. Essas ideias são retomadas e atualizadas atualmente não apenas nas reflexões filosóficas sobre ética, mas também nos esforços de repensar a vida sócio-econômica, uma vez que a sociedade é mais do que o mercado e a produção de mercadorias, pois demanda, em medida ainda maior, que sejam produzidos “bens relacionais”. Em diálogo com autores como Aristóteles, Sêneca, Epicteto, Pierre Hadot, Martha Nussbaum e Luigino Bruni, conversaremos sobre este amplo desafio do ser humanos da antiguidade e da atualidade: o de exercitar e formar em nós mesmos um senso prático na relação com os demais, produzindo, com isso, um mundo comum.
6o encontro (30 de novembro)
Ter o cuidado do lar
É muito comum pensarmos e filosofarmos sobre problemas públicos e políticos; mas negligenciamos demasiadamente um aspecto fundamental de nossas vidas: o viver em nossa casa, o de existir em um lar. Basta refletirmos um pouco sobre a forma como fazemos nossas vidas, ou mesmo sobre o sentido que damos às nossas existências, para acabarmos encontrando duas coisas bem comuns: a necessidade de cuidar de um espaço doméstico e o anseio de ter um lar, de “estar em casa”. Como reproduzimos nossos espaços domésticos? O que é ter um lar? O que significa “estar em casa”? Como exercer a difícil, mas necessária, atividade de cuidar de um lar? Em diálogo com autores Gilberto Freyre, Emanuele Coccia (autor de Philosophie de la maison) e Mona Chollet (autora de Chez soi: Une odyssée de l’espace domestique, La Découverte , 2015), comporemos uma mesa para pensar estas questões não apenas com intelectuais que filosofam a respeito, mas também com pessoas que se dedicam a cuidar do espaço doméstico.
Conheça a programação do Ciclo de Humanidades dos anos anteriores. E assista a qualquer momento!

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