Os Seminários do Ateliê começam em 2023 com o tema “Na carne do social: recompor o bem comum”, com o professor André Magnelli. Os Seminários são exclusivos para os sócio-apoiadores do Ateliê Clube nas modalidades Premium e Sócio-leitor.
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Apresentação do tema
As atuais crises expressam, em boa parte, a dificuldade de compor um mundo comum que seja significativo em sociedades livres, plurais e complexas. Este problema é central para o funcionamento da democracia e das instituições políticas, mas interessa também ao bem viver, pois demandamos sempre alguma parcela de confiança e sentido nas relações com os outros, com a vida comunitária, com as instituições e com o espaço público.
Vários nomes são dados ao que é visto como ameaçador hoje: alguns recorrem a velhos termos, como medievalismo, tribalismo, totalitarismo, fascismo e messianismo, enquanto outros fazem uso de expressões mais novas, como identitarismo, populismo, democratura, anti-intelectualismo, pós-verdade e Antropoceno. Tais proposições trazem, cada qual a seu modo, uma interpretação das crises e mutações da experiência humana, que gera tanto processos de fragmentação, quanto buscas de sentido comum.
Este Seminário do Ateliê parte da tese de que, para compreender o que se passa e dar respostas adequadas, precisamos enfrentar histórica, antropológica e filosoficamente um problema subestimado desde finais do século XX, mas que retorna agora como uma demanda recalcada e mal formulada: a condição política do ser humano. Algumas questões vão costurar, então, o Seminário como um todo: o que é o político? Quais são os seus fundamentos antropológicos? Como podemos pensar bem o político? Quais são os regimes políticos e as formas históricas que experimentamos e herdamos? Como é possível recompor o político em sociedades democráticas e mundializadas? Para encaminhar estas reflexões, retomo um tropo das fenomenologias de Maurice Merleau-Ponty e Claude Lefort: para pensar o político, é preciso que nos situemos na carne do social.
Neste primeiro semestre, o Seminário do Ateliê tem o objetivo de investigar as distintas formulações sobre o político. A estratégia heurística toma como partida três formulações pioneiras do século XX – Marcel Mauss, Hannah Arendt e Claude Lefort –, seguindo suas interlocuções com outros autores como Pierre Clastres, Paul Ricoeur, Marcel Gauchet, Pierre Rosanvallon, Jean-Louis Laville, Alain Caillé, Marshall Sahlins, David Graeber. Além disso, o Seminário vai explorar uma contraposição desta linha de pensamento do político com uma outra, inaugurada por Carl Schmitt e desenvolvida em distintas direções por autores como Ernesto Laclau, Chantal Mouffe, Giorgio Agamben e Bruno Latour.
Além de um esforço de elaboração conceitual e teórica, o Seminário se deterá nas reconstruções de regimes políticos e formas sociais através de trabalhos etnográficos e históricos, propiciando esclarecer problemáticas do tempo presente dentro de quadros historiográficos de longuíssima, longa e média duração. Neste sentido, será dada muita atenção à relação entre o religioso e o político, presente tanto nas investigações etnológicas sobre as sociedades arcaicas quanto nas pesquisas sobre o teológico-político nas sociedades tradicionais e modernas. Esta investigação nos permite revisitar, à luz das experiências de ontem e de hoje, algumas obras-chave da filosofia política clássica, moderna e contemporânea, esclarecendo historicamente conceitos herdados com os quais pensamos: política, poder, ação, lei, saber, verdade, representação, educação, povo, soberania, cidadania, humanidade, cultura, sociedade, etc.
Esta empresa possibilita compreender problemáticas centrais do debate contemporâneo, formulando-as em sua substância própria e evitando analogias apressadas, pensamentos em curto-circuito e anacronismos. Podemos falar em cinco frentes de problemáticas: totalitarismo, religião, neoliberalismo, populismo e democracia.
Primeira frente: o que foram os totalitarismos, mais especificamente, o comunismo, o fascismo e o nazismo? Como o estudo deles permite elucidar o que é democracia? Poderemos falar que vivenciamos a ascensão de novos totalitarismos?
Segunda frente: como se dão as relações entre religião e democracia nas sociedades modernas? Por que é importante investigar os esquemas religiosos que operam também fora das religiões, e mesmo em ideologias antirreligiosas, como foi o caso das religiões seculares? Precisamos de novas fontes para o político após o esgotamento das energias religiosas tradicionais e modernas? A ideia bem difundida de que há um ressurgimento do religioso corresponde aos fatos?
Terceira frente: fala-se muito em neoliberalismo como a ideologia de nosso tempo a ser superada, mas o que é neoliberalismo? Quais são as diferenças entre o que se entende por neoliberalismo e a tradição de pensamento liberal? Seria o neoliberalismo uma ideologia ou algo mais? Por que os impulsos neoliberalizadores sempre mostram força mesmo com as crises recorrentes? Como o combate aos seus efeitos destrutivos sobre a vida social depende da recomposição do problema do político em novos termos?
Quarta frente: como entender, na esteira destas indagações, quais os motores dos populismos atuais e o que eles são? Por que eles não devem ser confundidos com o fascismo ou o comunismo, nem tampouco vistos como realização autêntica da democracia? Como superar a alternativa populista às dificuldades democráticas através do aprofundamento da vida democrática? Quais são as linhas desta renovação tanto no nível da vida cotidiana quanto das instituições públicas e privadas?
E, por fim, a quinta frente. Se é preciso enfrentar as crises recompondo o bem comum, tal como propomos, isso demanda levar a fundo as indagações que valem tudo: uma vez investigada a natureza do político, como ela esclarece a democracia enquanto experiência, história e promessa? De que forma as democracias são capazes de realizar nossa condição política em regime de autonomia individual e coletiva? E como a vida e a cultura democráticas se relacionam com os nossos ideais mais caros de liberdade, justiça, dignidade, solidariedade, autorrealização e vida boa?
O que são os Seminários do Ateliê?
Os Seminários do Ateliê são a frente mais acadêmica das nossas atividades públicas. Eles apresentam nossas pesquisas em progresso no nível de altos estudos.
Inspirando-se em outros espaços de liberdade acadêmica, como o Collège de France e a École des hautes études en sciences sociales (EHESS), eles são dedicados ao desenvolvimento de nossas pesquisas junto à rede do Ateliê de Humanidades e aos sócios-apoiadores do Ateliê Clube, tendo um compromisso com a clareza expositiva e o aprendizado por diálogo crítico.
Possuindo um caráter inter- ou transdisciplinar, eles articulam a elaboração teórico-empírica, a consciência histórica, a reflexão sobre o presente e o cuidado com questões éticas, sociais, políticas e existenciais.
Quem pode assistir aos Seminários?
Todos os sócio-apoiadores do Ateliê Clube nas modalidades Premium e Sócio-leitor.
Como assistir aos Seminários?
Eles podem ser assistidos ao vivo e em formato gravado.
São lecionados quinzenalmente, aos sábados, das 10:30 à 12h, com acesso ao vivo por ZOOM, com possibilidade de interação do público com o professor.
Os vídeos dos Seminários são disponibilizados aos sócios-apoiadores Premium e Sócio-leitor para assistir a qualquer momento e em qualquer lugar, sem prazo de expiração.
Quando serão realizados os Seminários 2023?
Aos sábados, das 10:30 às 12:00h (quinzenalmente):
04, 18, 25 de março
01, 15, 29 de abril
13 e 27 de maio
10 e 24 de junho
05 e 19 de agosto
02, 16 e 30 de setembro
14 e 28 de outubro
11 e 25 de novembro
Canal de informação/co-laboração do Seminário em progresso
Os Seminários terão um canal interativo de Whatsapp, onde o professor fará circular informações e materiais complementares (Pontos de Leitura) para o público, com possibilidade de seu uso (com moderação) para perguntas e respostas.
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