O antropólogo francês Marcel Mauss publicou, em 1925, o hoje célebre Ensaio sobre o Dom, que é considerado por muitos, como Claude Lévi-Strauss, um marco d’águas das ciências humanas e sociais. Não faltaram, desde então, iniciativas teóricas e práticas que desenvolveram as intuições nele presentes.
Diante da crise de nosso tempo, o Ateliê de Humanidades se propõe a pensar uma “revolução do dom”; revolução a ser entendida em duplo aspecto: na teoria, quando propõe outras formas de explicação e compreensão da vida social; e na prática, quando pensa o dom como horizonte da ação em diferentes esferas.
O presente curso tem o intuito de apresentar os possíveis fundamentos teóricos do dom. Ele se divide em três módulos. Primeiramente (I), fazemos uma apresentação do próprio Ensaio sobre o Dom, contextualizando-o historicamente e no interior da obra do autor. Em seguida (II), apresentamos as distintas interpretações do dom feitas por alguns dos principais intelectuais franceses do século XX: o estruturalismo de Claude Lévi-Strauss, o surrealismo de Georges Bataille, a fenomenologia de Claude Lefort, a sociologia crítica de Pierre Bourdieu, a filosofia da hospitalidade de Jacques Derrida e o paradigma da dádiva do Mouvement anti-utilitariste en sciences sociales (MAUSS). Por fim, no último módulo, pensamos os caminhos possíveis de uma teoria crítica do dom, para os quais buscam contribuir os próprios professores, Paulo Henrique Martins e André Magnelli.
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Programa e aulas
Aula I. Apresentação ao Ensaio sobre o dom em diálogo com Malinowski
Na primeira aula, começamos a fazer uma exposição das teses do “Ensaio sobre a dádiva” (1924), de Marcel Mauss, e apresentamos a proposta de nosso curso. Após apresentar o contexto, o programa de investigação e as questões orientadoras, passamos a analisar a descrição etnográfica dos dois principais fenômenos de dádiva para o Ensaio: o kula das Ilhas Trobriand (Melanésia) e o potlatch do Noroeste Americano. Para tanto, retomamos a obra clássica “Os argonautas do pacífico ocidental” (1921), de Bronislaw Malinowski. Terminamos a aula começando a tratar do potlatch, que será retomado e aprofundado na aula seguinte. Além de terminar de analisar o potlatch e completar nossa exposição do Ensaio, passaremos para a primeira interpretação do Ensaio: a de Claude Lévi-Strauss.No final do vídeo, temos duas respostas dos professores a perguntas dos alunos.
Tempo de vídeo: 1 hora e 32 minutos
Link para assistir: https://youtu.be/lm4OBI0yogE
Aula II. O Ensaio sobre o dom (potlatch, moral e política)
Esta aula prolonga nossa exposição do “Ensaio sobre a dádiva”, retomando a apresentação do que é o potlatch e sua importância para a compreensão do fenômeno da dádiva; além disso, apresentamos quais são as conclusões que Marcel Mauss apresenta a respeito da contemporaneidade da dádiva nas sociedades europeias.
Aula III: A antropologia estrutural de Claude Lévi-Strauss
Nesta primeira aula sobre Claude Lévi-Strauss, apresentamos algumas noções sobre a obra de Claude Lévi-Strauss e o que é a antropologia estrutural. Para tanto, após um breve panorama sobre as principais obras de Lévi-Strauss, nos dedicamos a uma apresentação dos conceitos principais da linguística estrutural. No final, há respostas a três perguntas: como se dá a relação entre finito e infinito no estruturalismo? Existe um diálogo do estruturalismo com a teoria dos sistemas? Qual a diferença entre estruturalismo e pós-estruturalismo?
Aula IV. A análise da dádiva em Claude Lévi-Strauss
Após a recapitulação da aula anterior, nos dedicamos a uma análise da concepção de dom na obra inicial de Claude Lévi-Strauss, com atenção especial a “Estruturas elementares do parentesco”. Ao analisar as passagens em que Lévi-Strauss aborda a relação entre dom e parentesco, esclarecemos noções como proibição do incesto, organizações dualistas e “estruturas elementares do espírito humano”.
Aula V. Conclusão de Lévi-Strauss, mapa da viagem e fenomenologia
No início de nossa quarta aula, recapitulamos tudo o que foi feito até agora no curso e, em seguida, concluímos nossa análise de Lévi-Strauss dedicando-nos aos seus argumentos de “Introdução à obra de Marcel Mauss”. Depois, fazemos um mapa de viagem pelas distintas interpretações sobre o dom no século XX e expomos algumas noções elementares sobre o que é fenomenologia, a fim de entrar na interpretação de Claude Lefort.Nas respostas sobre as questões, temos a oportunidade de tratar das distintas concepções do que é “símbolo”/”simbólico”, da crítica fenomenológica às ciências modernas.
Aula VI. A fenomenologia da dádiva de Claude Lefort
Após uma breve recapitulação, retomamos o fio da aula anterior, apresentando o que é a fenomenologia e qual a sua diferença em relação ao estruturalismo. Depois de apresentar quem é Claude Lefort, nos detemos nos argumentos do autor no livro “A troca e luta entre os homens”, de 1951. Expomos, então, sua compreensão sobre dádiva e suas críticas tanto a Marcel Mauss quanto a Lévi-Strauss. Com isso, podemos ver como a dádiva se aproxima da questão da luta por reconhecimento como forma de constituição de uma intersubjetividade e de uma sociedade possível.
Aula VII. A dádiva como dispêndio em Georges Bataille
Após Claude Lévi-Strauss e Claude Lefort, chegamos à interpretação de Georges Bataille, que propõe uma concepção de dádiva que enfatiza a lógica antiutilitarista do potlatch. Na primeira parte, fazemos uma exposição do pensamento do autor, tratando de sua influência surrealista e nietzschiana, sua visão crítica das sociedades modernas, sua defesa da “parte maldita” e sua proposição de uma economia geral. Em seguida, os professores conversam sobre a força do pensamento do autor, em seu tempo e hoje. Por fim, preparamos o terreno para a entrada em nosso próprio autor: Pierre Bourdieu. A aula também também a resposta sobre uma questão: como evitar que a dádiva oscile entre a romantização dela e o ceticismo em relação a ela?
Aula VIII. Pierre Bourdieu: o interesse no desinteressamento
Apresentamos agora a concepção de dádiva da sociologia crítica de Pierre Bourdieu. Após fazer uma breve exposição dos seus conceitos básicos, passamos para uma leitura da sua interpretação do dom, mostrando como ela varia em função de suas respostas aos críticos e dos momentos da obra. Terminamos preparando o terreno para a próxima interpretação: a do Movimento anti-utilitarista em ciências sociais (MAUSS).
Aula IX. O Movimento Antiutilitarista em Ciências Sociais (MAUSS) e o paradigma do dom
Após termos trabalhado com as distintas interpretações clássicas – Claude Lévi-Strauss, Claude Lefort, Georges Bataille e Pierre Bourdieu -, encerramos nosso percurso com o “Movimento anti-utilitarista em ciências sociais” (MAUSS). Apresentamos a história do MAUSS, a recepção do movimento no Brasil, as agendas de investigação (histórica e teórica-reconstrutiva) e a estrutura elementar do dom. Além disso, em resposta às indagações, tratamos da pluralidade interna do MAUSS no no contexto europeu e brasileiro.
Como assistir?
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Certificado
Confere certificado mediante comprovação de que cursou através das aulas gravadas.
Professores
Bibliografia Básica
1. MAUSS, Marcel (1925). Ensaio sobre a dádiva. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Ubu, 2017.
2.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Estruturas elementares do parentesco (cap.V, cap.XXIX). Petrópolis: Vozes, 1982 [1a edição 1949, 2a edição 1967].
LÉVI-STRAUSS, Claude (1950). Introdução à obra de Marcel Mauss. In: MAUSS, Marcel. Antropologia e sociologia. São Paulo: Ubu, 2017
3.
LEFORT, Claude (1951). A troca e a luta entre os homens. In: LEFORT, Claude. As Formas da História. São Paulo: Brasiliense, 1979.
4.
BATAILLE, Georges. (1933) A noção de dispêndio. In: A Parte Maldita. Precedido de A Noção de Dispêndio. Autêntica, coleção Filo, 2013 [1957]. p.17-33.
5.
BOURDIEU, Pierre (1996). Marginalia. Algumas Notas adicionais sobre o dom. MANA 2(2):7-20.
6.
CAILLÉ, Alain (2023) Por uma teoria crítica do dom, 2 volumes. Rio de Janeiro: Ateliê de Humanidades Editorial.
7.
MARTINS, Paulo Henrique (2019) Itinerários do dom: teoria e sentimento. Rio de Janeiro: Ateliê de Humanidades Editorial.
MARTINS, Paulo Henrique (2023) Políticas da dádiva: associação, instituições, emancipação. Rio de Janeiro: Ateliê de Humanidades Editorial (lançamento em maio).
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