No Ciclo de Humanidades, que realizamos juntamente com o Consulado da França no Rio de Janeiro, propusemos uma reflexão sobre “A Revanche de Deus?! Religião em tempos de crise”, realizada em julho. Hoje, dia 29 de agosto, enfrentamos o tema “Rumo a uma sociedade pós-depressiva?“, que aborda o sofrimento psíquico no mundo contemporâneo. Temos agora o objetivo de aprofundar os estudos, as reflexões e os debates no entrecruzamento de religião, ética, filosofia e política, com a realização de cursos livres, grupos de estudos e tutorias de livre formação, em parceria com Centro Dom Vital.
Lançamos de partida, como primeiro curso desta frente, Amor, amores: percursos, com o professor André Magnelli, livre-pesquisador e diretor do Ateliê de Humanidades.
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Amor, amores: percursos
Professor: André Magnelli
Apresentação
O amor é uma busca eterna e um desafio do tempo. Razão de nossos motivos e fonte de nossas ações, ele é capaz de tornar nossa vida mais plena – e, talvez até, mais forte do que a própria morte. É dele que nascem nossos valores mais íntimos e privados; mas é nele que alimentamos também a melhor parte da nossa vida moral, cultural, política e, mesmo, econômica. Em tempos como os nossos, plenos de crises e desconstruções, ele pode ser visto como o refúgio de um mundo endurecido e o ânimo de uma existência corajosa. O apelo ao amor não seria uma resposta à fragmentação em curso e uma exigência à reconstrução de rumos?
Mas o que é o amor afinal? Ou melhor, quais são os modos e os tempos (ontem, hoje e sempre) do amar? Nós, do Ateliê de Humanidades, propomo-nos a fazer uma fenomenologia dos laços amorosos, assim como a exercitar a arte e experiência de compô-los. Este curso traça os primeiros passos de uma investigação em várias perspectivas: filosófica, histórica, antropológica, sociológica, política, estética e pragmática. Exploraremos, como partida, os distintos percursos do amar, cujos nomes estão consagrados no ocidente: eros, philia e ágape. Para tanto, faremos a articulação entre, de um lado, uma reconstrução dos significados dos amores ao longo da história, e, de outro, uma reflexão sobre suas presenças, metamorfoses e potencialidades contemporâneas. Com isso, o amor aparecerá como sendo um ponto de vista crítico a partir do qual vemos o mundo, um testemunho por meio do qual o pronunciamos e uma promessa em vista da qual o revolucionamos.
Programa*
1. O amor – busca eterna e desafio do tempo
1. Percursos do amar: uma fenomenologia dos laços amorosos; 2. O amor e o dever, o amor ou o dever: na origem das virtudes?; 3. Além da crise, crítica e melancolia: as revoluções de amor na era da desconstrução; 4. O dom como chave da compreensão dos modos e exercícios do amar.
2. As ambivalências de Eros
2.1. Origens antigas e transformações modernas
1. Amores na mitologia grega; 2. O amor e o belo: falta e ascendência (Platão); 3. Dos gregos aos modernos: amores místico, cortês e paixão; 4. Eros, um mito ocidental: mitanálise da cultura e do romance; 5. A ética romântica e a erotização do mundo; 6. Eros & poética: linguagem, imaginação e criação.
2.2. Eros na contemporaneidade: declínio ou metamorfose?
1. O espírito do consumismo: hedonismo auto-imaginativo e as equivalências de eros; 2. Vivendo no capitalismo afetivo: dores e alegrias de uma sociedade erotizada; 3. Cultura do narcisismo: erotismo de si e do outro; 4. Exposição e banalização: “deserotizações” numa sociedade pornográfica.
3. As potências da Philia
3.1. Perspectivas histórico-filosóficas
1. Philia em Aristóteles: amizade, felicidade e laço cívico; 2. A sabedoria clássica no cultivo da amizade (de Cícero a Montaigne); 3. Amor-potência de Spinoza: atividade e alegria.
3.2. Práticas de Philia em tempos de agonia
1. Philia contra o utilitarismo radicalizado: endividamento mútuo recíproco e positivo; 2. Sinergia, doçura e gratidão: philia como celebração do existir em comum; 3. Dos casamentos e amizades bem sucedidos; 4. O amor na e pela cidade: fundamentos de um civismo democrático; 5. Humanitarismo e cosmopolitismo: sentidos da philanthropia; 5. Biophilias, ou das afinidades potenciais multiespécies; 6. Philosophia como resistência à pós-verdade e pós-moral.
4. As solicitudes do ágape
4.1. Origens teológico-filosóficas do amor-ágape
1. O amor dos homens e o amor de Deus: dos Evangelhos e Epístolas a Agostinho; 2. As vicissitudes do amor agápico em tempos de amor-paixão.
4.2. O que é o amor-ágape
1. O ágape como dádiva pura, ou um amor sem retribuição; 2. Ágape como estado de paz (Luc Boltanski); 3. Ágape, ação e contexto: a superabundância; 4. Dimensões do amor-agápico e proposições sobre ágape (Gennaro Iorio e S. Cataldi); 5. Como a humanidade se inventa na maternagem.
4.3. Em busca do amor agápico na vida contemporânea
1. Uma sociologia do amor-agápico: a escola italiana de sociologia do amor; 2. A lamparina do dom e a chama do ágape (Paulo Henrique Martins); 3. Estudos de caso: uma fenomenologia do agir agápico.
* As referências bibliográficas e leituras recomendadas serão disponibilizadas aos inscritos
Período: 11/09, 18/09, 25/09, 02/10
Horário: das 18:30 às 20:30 h
Local: Centro Dom Vital – Rua Araújo Porto Alegre, 70 / salas 105-111 – Centro – Rio de Janeiro
Carga horária: 8 horas/aula – 4 sessões de 2h
Certificado: Confere certificado mediante 75% de presença nas aulas
Investimento: 180,00 reais
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