Ontem tivemos a posse de Sonia Guajajara, povo Guajajara Tentehar, como ministra do Ministério dos Povos Indígenas. Depois de quatro anos de Governo Bolsonaro, a criação do Ministério, comandado por uma indígena, é um ato simbólico de força. Desejo que isso fortaleça, na prática institucional, a política indigenista no país, indo além de mais um gabinete, com mesa, sala e cargos em Brasília. Neste sentido, o discurso da Ministra e a recriação do Conselho Nacional de Política Indigenista se mostraram sinais auspiciosos.
A Ministra Sonia Guajajara falou bem sobre a retomada da força ancestral indígena em uma nova fase da transição política: “nunca mais um Brasil sem nós”. É possível entrarmos, agora, em uma nova fase de construção da nossa democracia com um protagonismo dos povos indígenas, cuja atuação política é marcante e crescente desde a Constituinte, com um portentoso surgimento mais recente de lideranças intelectuais indígenas falando por si mesmas e em seu próprio nome.
As palavras da Ministra são importantes: “a existência dos povos indígenas do Brasil é cercada por uma leitura extremamente distorcida da realidade. Ou nos romantizam, ou nos demonizam. […] é importante saberem que nós existimos de muitas e diferentes formas. Estamos nas cidades, nas florestas, exercendo os mais diversos ofícios que vocês puderem imaginar. Vivemos no nosso tempo e espaço que qualquer um de vocês, somos contemporâneos deste presente e vamos construir o Brasil do futuro, porque o futuro do planeta é ancestral”.
Esses dizeres expressam um necessário desfazimento da oposição pouco refletida entre ancestralidade e modernidade; e eles articulam, ao mesmo tempo, a resistência secular dos indígenas diante das violências e das invisibilidades sofridas (institucionais, políticas e sociais) e a afirmação resoluta de uma colaboração para nosso futuro em comum (cultural, política, ecológica e civilizacional). Ao fazer isso rechaça o artifício da romantização, tão comum desde o início da modernidade e entre nós.
Diante deste cenário, recordei-me de minha pesquisa de doutorado sobre a antropologia política do etnólogo Pierre Clastres. Havendo a possibilidade agora de sair da defensiva e voltar a debater grandes questões, a etnologia e mais especificamente a antropologia política podem se fortalecer novamente no debate público dos próximos anos. Isso não apenas através de uma contribuição já significativa para a historiografia e as ciências sociais, mas também através de proposições para lidar com questões políticas. A esse respeito, os desafios em jogo envolvem levar a sério o modo pelo qual alguns dos povos indígenas de nosso continente lidam com o problema do poder na constituição de sua vida em comum.
Buscando contribuir humildemente para os estudos acerca desta questão, republico nos Pontos de Leitura do Ateliê de Humanidades a minha série de textos sobre Pierre Clastres, que havia saído há alguns anos no antigo Blog do Sociofilo e que não estão mais acessíveis na rede.
Trazemos inicialmente o primeiro texto da série que versa sobre quem foi Pierre Clastres, chamado aqui, provocativamente, de “o copérnico do político”.
Desejo uma excelente leitura, e, talvez também, um ótimo achado!
André Magnelli
Pontos de Leitura, 12 de janeiro de 2023
Pierre Clastres,
O copérnico do político
A vida de um etnógrafo metafísico[1]
Pierre Clastres formou-se em filosofia, tendo sido aluno e admirador de Gilles Deleuze. Frequentou, no início dos anos 1960, os cursos de Lévi-Strauss no Collège de France, o que o levou a uma conversão à etnologia em um processo de cinco anos (entre o início das aulas até a primeira etnografia). Uma conversão não apenas intelectual, mas também carnal, como diz Bento Prado Júnior: “É a história de uma conversão, de uma mudança de hábitos que não são apenas intelectuais, que atingem a carne da vida quotidiana em sua totalidade”.[2]
Tal como Lévi-Strauss, portanto, formou-se em filosofia optando pela etnologia; mas, contrariamente a ele, jamais renegou altivamente a reflexão filosófica[3], o que não apenas se manifesta no fato de ter sido leitor persistente de Carta sobre o Humanismo, de Heidegger, como também pode ser visto pelo ciclo de reflexão de sua obra: “saindo da filosofia, passando pelo trabalho etnográfico, lá descobrindo a articulação entre a ontologia do social e a reflexão sobre o Poder, ampliando o alcance teórico do primeiro na direção de uma crítica das ciências humanas, somos devolvidos às questões filosóficas da época”.[4]
Defendendo Clastres da crítica de José Arthur Giannotti, que dissera, aludindo a Fernando Pessoa dos versos de Tabacaria, que Clastres fazia às vezes filosofia como se estivesse comendo chocolate, Bento Prado sintetiza magnificamente qual era a forma de passagem da etnologia à filosofia na reflexão clastriana, em oposição àquela tradicionalmente presente na filosofia e bem expressa nos trabalhos de Giannotti (que, contudo, está longe de ser um filósofo sem interlocução com as ciências sociais). Bento Prado elabora uma oposição de posturas filosóficas bem traçada:
Em Clastres não encontramos nenhuma ontologia a priori da produção [ao contrário de Giannotti]. Mas, como diria Wittgenstein, nos limites de seu trabalho etnográfico, algo de metafísico deixa-se ver ou mostrar. […] Mais que uma metafísica positiva, uma metafísica interrogativa. Interrogações essenciais que não poderiam emergir senão da experiência etnográfica, que seriam inacessíveis para um armchair philosopher, para usar a expressão de sir Bertrand Russell, contra os filósofos da “virada linguística”. Giannotti, que não é etnólogo, só percebe as consequências filosóficas do trabalho, sem se reportar à base sólida de que derivam. Sinceramente prefiro o movimento regressivo, que nos leva do fato às suas condições formais ou transcendentais. Parece-me perigoso o caminho inverso, da dedução ao empírico, ou seu enquadramento autoritário num esquema prévio desenhado pela imaginação especulativa: por exemplo, algo como a “forma lógica” da práxis em sua mais abstrata generalidade. Quando se trata de pensar sociedades ou a História, então….[5]
Politicamente, sempre foi gauchiste, tendo sido membro da Union des Étudiants Communistes e leitor de Socialisme ou Barbarie, mas rompeu com o comunismo no início dos anos 1960, o que, para François Dosse, é a principal razão de sua conversão à etnologia, em uma decisão intelectual compartilhada por Alfred Adler e Lucien Sebag. Para alguns intérpretes, ele se torna, a partir de seus trabalhos antropológicos, um representante maior do anarquismo da metade do século, constituindo uma “antropologia anarquista”.[6] Há controvérsias, contudo, quanto ao seu anarquismo político, ou às leituras de Sociedade contra o Estado como sendo uma justificação antropológica do anarquismo[7]; de todo modo, seu suposto anarquismo é reforçado pela interpretação clastriana de La Boétie, por ter sido colaborador de uma enciclopédia anarquista italiana nos anos 1970 e, principalmente, pelo seu modo de vida: “sua personalidade, seu estilo inquieto, uma espécie de anarquismo não somente pensado mas vivido”.[8] Que se combinava perfeitamente com um revolucionarismo embebido de humor: “Lembro-me de uma curiosa frase dele – de sabor kantiano –, em que dizia ‘a revolução é impossível, mas devemos agir como se não o fosse’”.[9]
No Brasil, foi professor do Departamento de Ciências Sociais da USP por volta de 1967,[10] mas no ano seguinte já estava em Paris levantando barricadas da revolução de 1968.[11] Na França, participou do círculo intelectual saído da extinta Socialisme ou Barbarie (Lefort, Castoriadis, Gauchet e Abensour), integrando o núcleo da revista Libre, por convite de Gauchet.[12] Foi membro do prestigioso Laboratoire d’Ethnologie Social dirigido por Lévi-Strauss, mas, tendo entrado em conflito direito com o chefe, teve que abandoná-lo. Tornou-se pesquisador do CNRS em 1974 e, no mesmo ano, tornou-se diretor de estudos da Va seção da École Pratique des Hautes Études (EPHE), lecionando seminários que serão frequentados pelo filósofo Marcel Gauchet.
Lutador de karatê e aparentemente homem de poucos medos, morreu infelizmente muito cedo, aos 43 anos, vitimado por um acidente de carro, o que o impediu que aprofundasse a revolução copernicana da reflexão política por ele iniciada.
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Obra e repercussão
Por causa da morte precoce, sua obra é pouco extensa. Como resultado de sua primeira etnografia entre os índios Guayaki, do Paraguai (1963-4), feita em parceria com sua esposa, Helène Clastres, defendeu uma tese sobre A Vida Social de uma Tribo Nômade: os Índios Guayaki do Paraguai (1965), na Sorbonne, publicando, com base nela, seu primeiro livro em 1972.[13] Fez, em seguida, trabalhos de campo com os Guarani (1965-6)[14] e com os Chulupi (1966-8), ambos no Paraguai. Retorna, posteriormente, ao campo nos anos 1970, entre os Yanomami na Amazônia venezuelana (1970-1) – juntamente com o discípulo de Lévi-Strauss Jacques Lizot[15] –, e, em seguida, entre os Guarani de São Paulo (1974).[16] Das investigações deste período, principalmente sobre os Yanomami, resultaram os escritos compilados postumamente, que marcam o que podemos considerar uma segunda fase, em que surge a guerra como um fato social positivo e o projeto de uma “arqueologia da guerra e da violência”.[17]
Apesar da obra inacabada, herdeiros não faltaram, nem mesmo repercussões significativas de sua obra sobre a antropologia contemporânea mundial e brasileira[18], presente inclusive no trabalho do herdeiro, autoproclamado “inconstante”, Eduardo Viveiros de Castro.[19] Clastres tornou-se responsável pela renovação da antropologia política com sua tese sobre a forma de organização política dos ameríndios, em que muda os termos nos quais a etnologia e as ciências sociais em geral se dedicaram à investigação do espaço do político, que tem no centro a questão do poder.[20]
A nova forma de reflexão já se apresenta desde o início dos anos 1960 numa série de artigos, a começar pelo inaugural, que é curiosamente anterior à sua partida ao campo no Paraguai, escrita pelo conhecimento adquirido pela leitura do Handbook of South-American Indians e dos cronistas do século XVI e XVII (Léry, Thévet, Staden, D’Évreux, d’Abbevilles)[21]: Troca e poder: Filosofia da Chefia Indígena, publicado em 1962.[23] Com ele, Clastres transforma em um problema a ser investigado positivamente aquilo que classicamente se colocou como sendo apenas uma determinação negativa, como falta ou ausência, a saber, a ausência de Estado nas sociedades ditas arcaicas. Ao invés de considerarmos as sociedades sem Estado como sociedades “pré-políticas”, Clastres propõe que a ausência de um aparelho de poder diferenciado da sociedade é uma marca de como tais sociedades politicamente recusam o Estado: são, portanto, contra o Estado.
No próximo Pontos de Leitura, veremos como tal tese das sociedades contra o Estado é construída e contra quem ela se volta em defesa de uma “revolução copernicana” da reflexão política.
Notas
[1] Tendo em vista a presença de boas apresentações à obra de Clastres feitas por alguns dos principais antropólogos brasileiros, contento-me com uma brevíssima apresentação. Uma longa entrevista de Clastres à Revista Anti-Mythes, feita logo após a publicação de Sociedade contra o Estado, em 1974, que foi publicada felizmente na recente tradução brasileira, serve de uma boa apresentação de Clastres por ele mesmo: CLASTRES, P. “Entrevista com Pierre Clastres”, p.235s. Felizmente, sob direção de Abensour, foi publicada a principal compilação de artigos, até onde eu sei, dedicados à obra de Clastres, com capítulos de Miguel Abensour, Claude Lefort, Marc Richir, Luc de Heusch e vários outros: ABENSOUR, M. (ed.). L’Esprit des Lois Sauvages: Pierre Clastres ou une Nouvelle Anthropologie Politique. Paris: Seuil, 1987. Ver para a apresentação da obra de Michel Abensour.
No Brasil, com as publicações dos livros de Clastres pela Cosac & Naify, temos o prefácio a Sociedade contra o Estado feita pelos antropólogos Tânia Lima e Marcio Goldman – LIMA, Tânia S.; GOLDMAN, M. “Prefácio”, em A sociedade contra o Estado –, o posfácio escrito por Eduardo Viveiros de Castros (“Posfácio. Intempestivo (ainda)”) e o prefácio de Bento Prado Júnior escritos para de Arqueologia da Violência. Por fim, temos a ótima entrevista de Bento Prado Jr. que se seguiu às publicações: LEIRNER, P. de., TOLEDO, L. H. de. “Lembranças e Reflexões sobre Pierre Clastres: Entrevista com Bento Prado Júnior”. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2004, v.46, n.2, p.4. No final de Sociedade contra o Estado e Arqueologia da violência temos a bibliografia completa de Clastres e a relação bibliográfica dos comentadores. Sobre a parte da obra que nos interessa, a das teses sobre sociedade contra o Estado, contento-me em fazer algumas indicações, destaco que o eminente antropólogo francês Philippe Descola escreveu uma importante crítica baseada em seu vasto conhecimento etnográfico ameríndio: DESCOLA, Ph. “La chefferie amérindienne dans l’anthropologie politique”. Revue Française de Science Politique, 38 (5), p.818-827, 1988. E também os artigos de Lefort e Gauchet sobre o autor: LEFORT, Cl. “L’oeuvre de Clastres”, in ABENSOUR, M. (ed.). L’Esprit des Lois Sauvages.
[2] LEIRNER, P. de., TOLEDO, L. H. de. “Lembranças e Reflexões sobre Pierre Clastres: Entrevista com Bento Prado Júnior”. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2004, v.46, n.2, p.4, p.438.
[3] A questão da renegação da filosofia por parte de Lévi-Strauss é polêmica. Para Bento Prado, Lévi-Strauss considerava que a passagem pela filosofia era uma carga inútil, no que lembra da passagem de Tristes Trópicos, em que Lévi-Strauss critica as manobras retóricas tão fáceis de serem manipuladas por ele próprio em tempos de estudante, bem como do final de Totemismo Hoje, em que o antropólogo estabelece uma equivalência entre as descobertas de Bergson e o pensamento selvagem: “a filosofia sempre estará ligada à filosofia praticada na universidade, ao vazio das “dissertações”, em que era possível demonstrar tudo ou nada por meio de uma dialética puramente abstrata – no fundo, era retórica. Para Lévi-Strauss tudo se passa como se a filosofia fosse essencialmente uma ilusão, ou uma forma pobre do pensamento selvagem. É o que se pode, talvez, vislumbrar num parágrafo muito curioso de Totemismo hoje. Em certo momento desse livro, ele sublinha como alguns textos de Bergson são esclarecedores para a compreensão da mitologia de uma tribo indígena da América do Norte. Esclarecedores, porque mostrariam uma afinidade profunda com essa mitologia. Bergson, penseur sauvage… Sendo capaz de explicar a mitologia, o antropólogo explica também a metafísica bergsoniana” (LEIRNER, P. de., TOLEDO, L. H. de. “Lembranças e Reflexões sobre Pierre Clastres: Entrevista com Bento Prado Júnior”. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2004, v.46, n.2, p.4, p.429). Podemos lembrar aqui da brilhante tese de Ricardo Jardim de Andrade, que mostra que a “filosofia estruturalista” do antropólogo faz um tributo ao positivismo que a cega à riqueza filosófica presente em seu método: JARDIM ANDRADE, R. Le structuralisme et la question du sujet: la formation du champ sémiologique. Lille: ANRT, 2000.
[4] PRADO Jr., BENTO. Prefácio. In: Arqueologia da violência, p.11.
[5] LEIRNER, P. de., TOLEDO, L. H. de. “Lembranças e Reflexões sobre Pierre Clastres, p.432. O aludido trecho de Tabacaria é o seguinte:
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
[6] Um exemplo de tal tipo de interpretação pode ser encontrado em: MOATI, Yoram. Pierre Clastres et l’anthropologie anarchiste, Alternative Libertaire, n°228, mai 2000. Uma proposta de antropologia anarquista muito mais interessante, rigorosa conceitual, empírica e historicamente, é a de David Graeber, falecido recentemente.
[7] Marcel Gauchet diz que Clastres brincava com o fato de algumas pessoas interpretarem Sociedade contra o Estado por um viés anarquista.
[8] LEIRNER, P. de., TOLEDO, L. H. de. “Lembranças e Reflexões sobre Pierre Clastres”, p.431.
[9] ibid, p.428.
[10] Infelizmente não tive a informação exata da data de quando ele foi professor da USP. Mas não considero tal lacuna grave, uma vez que, como relata Bento Prado Jr., nem ele, nem Helène Clastres, se recordam exatamente da data. LEIRNER, P. de., TOLEDO, L. H. de. “Lembranças e Reflexões sobre Pierre Clastres”, p.425-6.
[11] Segundo relato de Bento Prado Jr.: ibid, p.426.
[12] A respeito disso, ver meu capítulo sobre Gauchet de minha tese de doutorado: MAGNELLI, André. Na Carne do Social, IESP-UERJ, 2015, assim como minha recente entrevista com ele no contexto do Ciclo de Humanidades 2022: Como o político se faz?.
[13] CLASTRES, P. Crônica dos índios Guayaki: o que sabem os Aché, caçadores nômades do Paraguai. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995 [1972]. Mesmo sob oposição de Clastres, os Guayaki sofreram um genocídio em 1972.
[14] É a partir da etnografia dos Guarani que ele compila os cânticos aos deuses: CLASTRES, P. A fala sagrada: mistos e cantos sagrados dos índios Guarani. Campinas, SP: Papirus, 1990 [1974] (o original do francês tem título : Le Grand Parler).
[15] Discípulo e principal informante de Lévi-Strauss em terras brasileiras, tendo sido responsável pela gramaticalização e dicionarização da língua dos Yanomami, Lizot se tornou também personagem de um escândalo sexual, recentemente exposto no escandaloso documentário, produzido por José Padilha: Segredos da Tribo (2010).
[16] Os Guarani de São Paulo são, na verdade, sobreviventes das migrações religiosas que remontam ao início do século XX vindos do Paraguai. Helène Clastres, de seu lado, publicou um clássico estudo sobre o profetismo tupi-guarani que surgiu nesse período, que deve ser estudado juntamente com os escritos de Pierre: CLASTRES, H. La terre sans mal. Le prophétisme Tupi-Guarani. Paris: Seuil, 1975.
[17] No título da tradução para o português do ensaio póstumo, fica claro o projeto empreendido por Clastres na sua última fase e que foi tragicamente interrompido. A compilação francesa intitulada Recherches de Anthropologie Politique ganhou o título português: CLASTRES, P. Arqueologia da violência: estudos de antropologia política. São Paulo: Cosac & Naify, 2004 [1980].
[18] Sobre o debate brasileiro em torno de Clastres, temos os seguintes artigos: BARBOSA, G. B. “A socialidade contra o Estado: a antropologia de Pierre Clastres”. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2004, v.47, n.2; GOLDMAN, M. “Pierre Clastres ou uma Antropologia contra o Estado”. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2011, v.54, n.2; LANNA, M. “As sociedades contra o Estado existem? Reciprocidade e Poder em Pierre Clastres. MANA 11(2):419-448, 2005; LIMA, Tânia S. “O dois e seu múltiplo: Reflexões sobre o Perspectivismo em uma Cosmologia Tupi”. MANA 2(2):21-47, 1996; id. “Por uma Cartografia do Poder e da Diferença nas Cosmopolíticas Ameríndias”. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2011, V. 54 Nº 2; PERRONE-Moisés; SZTUTMAN, R. “Metamorfoses do Contra-Estado. Pierre Clastres e as Políticas Ameríndias”. Ponto Urbe, 13, 2013; SZTUTMAN, R. “Religião Nômade ou Germe do Estado? Pierre e Helène Clastres e a Vertigem Tupi”. Novos Estudos Cebrap, 83, março de 2009.
[19] Viveiros de Castro se considera um “admirador inconstante” de Clastres (VIVEIROS DE CASTRO, E. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify,2002, p.472), provavelmente tão inconstante, ou mais, quanto o é de Lévi-Strauss.
[20] CLASTRES, P. “Copérnico e os selvagens (1969)”, in CLASTRES, P. A sociedade contra o Estado. São Paulo: Cosac & Naify, 2003, p.23.
[21] ABENSOUR, M. Présentation, p.7, in L’Esprit des Lois Sauvages: Pierre Clastres ou une Nouvelle Anthropologie Politique. Paris: Seuil, 1987.

É idealizador, realizador e diretor da instituição de livre estudo, pesquisa, escrita e formação Ateliê de Humanidades (ateliedehumanidades.com).
Sociólogo, professor, pesquisador, editor, tradutor, mediador cultural e empreendedor civil/público. É editor do Ateliê de Humanidades Editorial e do podcast República de Ideias. É editor da tribuna Fios do Tempo: análises do presente. É curador do Ciclo de Humanidades: ideias e debates em filosofia e ciências sociais, co-organizado com o Consulado da França no Rio de Janeiro. Pesquisa na interface de teoria social, tecnociências & sociedade, sociologia histórica do político, teoria antropológica, ética, filosofia política e retórica.
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