O que é o convivialismo?

O convivialismo é a filosofia da arte de viver juntos – de con-viver. Ele é o nome dado a tudo aquilo que nas doutrinas e sabedorias existentes ou passadas, laicas ou religiosas, concorre para a busca de princípios que permitem aos seres humanos, ao mesmo tempo, rivalizar para melhor cooperar e nos fazer progredir enquanto humanidade, com a plena consciência da finitude dos recursos naturais e com a preocupação compartilhada de cuidado com o mundo.

É convivialista toda iniciativa voltada para a proteção, o cultivo e a valorização da relação e da cooperação entre indivíduos e grupos, de modo a permitir que se oponham sem se massacrar, cuidando um do outro e da natureza.

O convivialismo estabelece cinco princípios: comum naturalidade, comum humanidade, comum socialidade, legítima individuação e oposição criadora. Esses cinco princípios estão subordinados ao imperativo do controle da húbris. Eles não caem do céu, pois realmente animam todos aqueles que pretendem construir um mundo pós-neoliberal que esteja à altura dos desafios do nosso tempo.

Por que o convivialismo?

Nada é mais urgente que elaborar um pensamento e uma inteligibilidade do mundo alternativos àqueles que o neoliberalismo soube impor a todo o planeta. O Movimento Convivialista busca dar um nome a diversas iniciativas teóricas e práticas existentes no Brasil e no mundo, fazendo-as convergir e prosperar juntas.

Nós precisamos de uma filosofia política (no sentido amplo do termo), e essa não pode consistir em um simples retorno ao socialismo, ao comunismo, ao anarquismo ou ao liberalismo clássicos. Essas grandes ideologias da modernidade não estão mais à altura dos problemas que temos que enfrentar. Nada nos disseram, de fato, sobre a relação desejável dos humanos com a natureza que, claramente, não é inesgotável; nada também de decisivo disseram sobre as relações entre os homens e as mulheres; e menos ainda sobre a boa forma de pensar a diversidade das culturas.

O convivialismo não é uma nova doutrina que vem se sobrepor às outras, pretendendo anulá-las ou superá-las radicalmente. É o movimento de seu questionamento recíproco, fundado no sentimento de extrema urgência em que nos encontramos, diante das múltiplas ameaças que pairam sobre o futuro da humanidade. Pretende reter o que há de mais precioso em cada uma das sabedorias de que somos herdeiros.

Para que um (Segundo) Manifesto Convivialista?

A ideia central do Primeiro Manifesto era que o triunfo do capitalismo rentista e especulativo devia ser compreendido como resultado e ponto culminante de uma aspiração da espécie humana à desmedida, à desmesura, à ilimitação (húbris). Para se opor a ele e superá-lo, não basta denunciar, de modo ritualístico e estéril, os vilões capitalistas. É preciso se interrogar sobre as razões e os mecanismos dessa desmedida, bem como sobre os meios de conjurá-la, sem sacrificar nossa aspiração à liberdade.

Por que um Segundo Manifesto Convivialista? Porque o Primeiro não era suficientemente internacional, embora traduzido em uma dezena de línguas e tendo sido objeto de livros e discussões em alemão, português (Brasil), espanhol, italiano e japonês. Ora, o convivialismo só tem sentido se pudermos nos reconhecer em todos os países.

Foi necessário, portanto, ampliar consideravelmente o círculo de autores e suas fontes de inspiração. A propósito de todo um conjunto de pontos, o Primeiro Manifesto indicava direções que continuam pertinentes, mas que poderiam parecer demasiadamente vagas, muito indeterminadas do ponto de vista teórico e, por outro lado, insuficientemente concretas. Este Segundo Manifesto retoma a estrutura do primeiro e parte do que nele foi escrito, mas enriquecendo-o e clarificando-o consideravelmente a partir de intercâmbios realizados nos últimos seis anos entre autores e militantes simpatizantes do convivialismo em todos os países.

Chegou a hora de delinear um avanço coletivo decisivo no campo das ideias. Não poderá resultar da simples soma de análises desenvolvidas por tal ou qual filósofo, economista ou sociólogo individualmente, por mais justas que pudessem ser. Porque não bastará que essas análises sejam justas; se elas o são, ainda será preciso que sejam amplamente críveis e partilhadas e, se possível, em escala global. Essa é a aposta deste Segundo Manifesto Convivialista: se apresentar como o resultado do trabalho de um intelectual coletivo, tendo quase 300 signatários de 33 países diferentes na versão francesa, aos quais se somam nesta edição brasileira cerca de 100 signatários de nosso país, oriundos das mais diferentes regiões, instituições, disciplinas, profissões e movimentos sociais.

Como construir o convivialismo?

O Segundo Manifesto Convivialista possui propostas econômicas, sociais, ecológicas, culturais e políticas concretas para a construção de uma sociedade mais convivial, pois aceitamos o desafio de responder àquela que é a pergunta política por excelência: o que fazer?

Contudo, as vias do convivialismo são plurais, porque o convivialismo não é um dogma, mas um caminho. E também uma esperança, em um mundo tão carente dela. Ele não pertence a ninguém e sua força vem justamente do fato de reunir pessoas oriundas de horizontes políticos e ideológicos muito diversos. Portanto, seus signatários são convidados a discutir e enriquecê-lo, tanto do ponto de vista teórico quanto prático, abrindo rumos plurais para instituições e práticas conviviais.

Além disso, o convivialismo não pretende ser uma tábula rasa extraída do nada, ao contrário, ele é uma bandeira a reunir iniciativas e experiências já existentes. Deste modo, seus signatários são convidados a nos fazer (re)conhecer quais são as boas convivialidades em curso. Ao torná-las visíveis, é possível gerar uma ressonância das boas experiências que são muitas vezes invisibilizadas por nosso espaço público mercantilizado e midiatizado.

Se os portadores desse emblema se tornarem cada vez mais numerosos, então podem se reconhecer e debater onde vivem ou trabalham, nos hospitais, nas escolas, nas prisões, nos colégios secundários, na agricultura, nas empresas, nas sociedades mútuas, nos sindicatos etc. Ao discutir dessa forma, poderão começar a traçar os contornos de ambientes de trabalho ou de moradia mais conviviais, onde se vive melhor, com mais harmonia, mesmo se falta dinheiro. Uma sociedade pós-neoliberal se esboçará dessa forma.

Calendário do Convivialismo

26
102021
Noites do Dharma. Dharma e convivialismo – com André Magnelli e Nrsimhananda DasaDada a tradição em que vivemos, é comum realizarmos interlocuções com as tradições cristãs, afro-brasileiras e indígenas. Mas nesta semana abriremos uma nova ponte, propondo-nos a indagação: que diálogos podemos construir entre o convivialismo e a cultura védica? Que tipo de reflexões e práticas conviviais podem ser nutridas pela rica tradição que flui do Mahabharata, e em particular do Bhagavad-Gita, com seus conceitos como trivargadharmakarmayogaatman, etc.? Com estas questões em vista, teremos nesta terça-feira (26 de outubro), às 19:30h, um diálogo entre André Magnelli (Ateliê de Humanidades).e Nrsimhananda Dasa sobre “Dharma e convivialismo”, mais um episódio de “Noites do Dharma”, realizado pelo Clube do Dharma.
10:30hClube do Dharma
https://youtu.be/wLSwKbKydTk
03
092021
O convivialismo e as políticas públicas: potencialidades e desafiosNesta sexta-feira (03 de setembro), das 8:30 às 10:30h, teremos a mesa O convivialismo e as políticas públicas: potencialidades e desafios do IV Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo de Públicas (ENEPCP) (realizado entre 01 e 03 de setembro), com coordenação de Genauto Carvalho de França Filho e a participação de Rosana Bullosa, Paulo Henrique Martins, Elias Sampaio e André Magnelli.
02
092021
Entre lutos e memórias: práticas de cuidado na pandemiaComo parte das atividades do grupo de suporte e reflexão Cuidado Coletivo, vamos conversar sobre as práticas de cuidado constituídas em redes de apoio a enlutados e órfãos da pandemia. Será no próximo dia 02 de setembro, quinta-feira, às 20:00h, um Conviviações com o tema “Entre lutos e memórias: práticas de cuidado na pandemia”, tendo a participação de Danilo Cesar e Elisiana Trilha.
20hAteliê de Humanidades
19
072021
Conviver e cuidar entre a vida e a morte – com Osmair Camargo e Fernando NevesPara o lançamento do grupo de suporte e reflexão Cuidado Coletivo, faremos no próximo dia 19 de julho, segunda-feira, às 20:30h, um Conviviações com o tema “Conviver e cuidar entre a vida e a morte: diálogo na frente do combate”, tendo a participação de Osmair Camargo (sepultador e filósofo) e Fernando Neves (médico intensivista).
20hAteliê de Humanidades
08
062021
Ressonâncias e convivialidades – com Hartmut Rosa e Alain CailléOrganizado pela instituição independente de estudo e pesquisa Ateliê de Humanidades e pelo Centro de Estudos Avançados da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o evento conta com a parceira, no Brasil, da Diretoria de Relações Internacionais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (UFBA); e, no exterior, conta com o apoio do M.A.U.S.S., do Movimento Internacional Convivialista, do Max-Weber-Kolleg da Universidade de Erfurt, da Jena Universität e da Goethe Universität Frankfurt am Main.
17-19hAteliê de Humanidades
13
042021
Por tecnologias convivialistasCom mediação de Bia Martins (jornalista e pesquisadora), teremos uma mesa-redonda com a participação de Ká Menezes (idealizadora do Crianças Hackers e do Programa “Nós, não estamos Sós”) e Leonardo Foletto (Jornalista/baixacultura.org) para pensar a possibilidade de novas tecnologias digitais.
17-19hAteliê de Humanidades
https://youtu.be/IUD3a8rhJGo
06
042021
Construir uma cidade convivial com e para as mulheresTeremos o encontro do Conviviações sobre o tema “Construir uma cidade convivial com e para as mulheres”. Com mediação de Bia Martins (jornalista e pesquisadora), teremos uma mesa-redonda com a participação de Odja Barros (pastora batista, teóloga feminista e coordenadora do Grupo Flor de Manacá) e Rita Gonçalo (ETTERN, IPPUR/UFRJ).
18-20hAteliê de Humanidades
https://bit.ly/CDSUNB
09
022021
Trajetória e propostas do convivialismoSerá uma conversa sobre a trajetória do convivialismo e as propostas com a mediação de Elimar Pinheiro do Nascimento e a presença, como debatedores, de Michele Guerreiro e Frédéric Vandenberghe.
04
022021
O convivialismo e a produção do comumSerá uma conversa sobre a relação do convivialismo com a produção do comum. Com organização e mediação de Beatriz Martins, teremos uma conversa com Georgia Nicolau, co-fundadora e diretora do Instituto Procomum, e Miguel Said (UFABC), pesquisador que investiga as relações entre conhecimento, tecnologia e colaboração, com atenção especial aos bens comuns.
17-19hAteliê de humanidades
https://youtu.be/0cYtGmAHSrk
14
012021
Crise civilizacional: o convivialismo tem algo a dizer?As primeiras Conviviações sobre o convivialismo começam com evento realizado pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UNB, no dia 14 de janeiro (quinta-feira), com Elimar Pinheiro do Nascimento, André Magnelli, Cristovam Buarque e Alfredo Pena-Vega.
10
122020
Seminário sobre convivialismo (UNICAMP)Aula de Paulo Henrique Martins e André Magnelli sobre convivialismo como alternativa sistêmica, em disciplina lecionada pelos prof. Paulo Sérgio Fracalanza e Rosana Icassatti Corazza, realizada pelos Instituto de Economia e do Instituto de Geociências (Unicamp).
16-18hYoutube
09
122020
Quilombolas como convivialismo vivido?Conversaremos com e sobre o universo quilombola no Brasil. Como o movimento quilombola pensa o convivialismo? Serão os quilombolas uma forma de convivialidade na prática? Expositores: Antonio Crioulo (CONAQ), Negro Bispo (pensador quilombola), Sandra Maria (advogada quilombola), mediação de Itamar Lages.
11-13hZoom/Youtube/Facebook
02
122020
Convivialismo como teoria e práticaComeçamos as conversar de nosso Conviviações: construindo o convivialismo juntos com uma mesa-redonda com presença de Marc Humbert, Michelle Guereiro e convidados.
11-13hZoom/Youtube/Facebook
25
112020
Lançamento do Segundo Manifesto ConvivialistaO Segundo Manifesto Convivialista será lançado com participação de Alain Caillé, Jaime Rios Burga, Frédéric Vandenberghe, Paulo Henrique Martins e Tereza Estarque, com apresentação e mediação de André Magnelli.
11-13hZoom/Youtube/Facebook

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