O Segundo Manifesto Convivialista possui propostas econômicas, sociais, ecológicas, éticas, culturais e políticas para a construção de uma sociedade mais convivial. Algumas propostas são mais abstratas, outras bem concretas. O fato é que qualquer movimento de mudança de vida deve aceitar o desafio político por excelência, que é responder à pergunta: o que fazer?
Enumeramos abaixo algumas das propostas convivialistas. Se quiser conhecer todas elas é só ler o Manifesto completo.

- Ver nas políticas de preservação do meio ambiente e dos recursos naturais uma oportunidade de inventar novos modos de vida, de encontrar novas fontes de criatividade e de dinamizar novamente os territórios;
- Diante dos desafios e riscos climáticos e energéticos, é preciso ter no horizonte de 2040-2050 um objetivo “triplo zero”:
- Zero de emissões líquidas de gás de efeito estufa (“neutralidade carbono”);
- Zero de consumo de combustíveis fósseis (o que implica abandonar o carvão, o petróleo e o gás fóssil);
- Zero de resíduos altamente tóxicos e de alto risco;
- Fomentar a passagem das fontes de energia e matéria do subsolo ao sol, no âmbito de uma política energética fundada no uso adequado, na partilha, no não desperdício (a sobriedade) e na limitação das perdas em todos os níveis;
- Repensar e remodelar profundamente o estatuto, as responsabilidades e a gestão das empresas, de forma a garantir que as empresas respeitem os direitos humanos fundamentais, reduzam as desigualdades, protejam o meio ambiente e a biodiversidade e lutem solidária e ativamente contra o perigo climático;
- Controlar a húbris das tecnociências, criando mecanismos de regulação ética por diálogos entre cientistas, cidadãos e políticos, para que as inovações sejam orientadas pela preocupação com a vida boa e não pela preocupação com o enriquecimento das esferas industriais e financeiras;
- Avançar, em nome da comum naturalidade, na defesa de direitos dos animais contra sofrimentos infligidos tanto por suas condições de criação quanto de abate, sendo prioritário fazer desaparecer as gigantescas fazendas industriais que tratam os animais como se fossem apenas matéria e que são fontes de enorme poluição;
- Garantir a rastreabilidade do que comemos.

- Reviver o ideal democrático através da articulação sistemática da democracia representativa parlamentar, da democracia de opinião e da democracia direta e participativa (através de conferências de cidadãos e referendos de iniciativa cidadã), e através do estabelecimento de uma democracia efetiva na empresa;
- Apostar, em primeiro lugar, no poder da sociedade civil, com a mobilização de todas aquelas e aqueles que se preocupam com o bem comum, fortalecendo, mutuamente, as associações locais e mundiais;
- Influenciar o jogo político instituído, com adesões de atores e instituições políticas à causa convivialista;
- Formar uma Associação mundial convivialista, federada com organizações locais nos mais distintos países, e realizar uma Assembleia Mundial da Comum Humanidade;
- Defender sempre que a cidadania não é uma questão de religião e todos os cidadãos são formalmente iguais, sejam lá quais forem suas religiões e suas crenças. O Estado garante a liberdade de religião e credo, bem como o livre exercício de cultos;
- Promover um universalismo plural (um “pluriversalismo”) que permite que diferentes culturas, religiões ou filosofias dialoguem se opondo sem se matarem umas às outras, desenvolvendo um sentimento de pertença a uma comunidade humana mundial;
- Atuar pelo reequilíbrio da relação entre homens e mulheres, garantindo a igualdade de direitos.
- [incluído pelos convivialistas brasileiros] Atuar pela igualdade de direitos entre todos, sem quaisquer discriminações de gênero, raça, etnia e classe, atuando pela educação para o convívio democrático pelo reconhecimento do pluralismo das formas de ser, viver e existir e pela criação de mecanismos morais e legais de punição a qualquer forma de racismo, misoginia, etnocídio e genocídio.
- [incluído pelos convivialistas brasileiros] Desmercantilizar o espaço urbano, revitalizando o espaço público citadino e promovendo formas de vida convivial em nossas cidades e metrópoles.

Políticas fiscais para diminuição de desigualdade
Todas as ações econômicas devem ser feitas em uma luta resoluta por uma redução significativa das desigualdades. O Manifesto propõe algumas medidas possíveis, que variam segundo as realidades nacionais e locais:
- Introduzir uma renda mínima incondicional que seja universal;
- Estabelecer um teto de renda e ativos, por mais alto que seja;
- Alinhar o imposto sobre o capital com o imposto sobre o trabalho;
- Realizar políticas fiscais imediatas que diminuam desigualdades ao mesmo tempo que gerem receitas para financiamento das políticas sociais (taxação fortemente progressiva sobre fortunas e altas heranças);
- Atuar para a erradicação de paraísos fiscais, declarando ilegal e punindo severamente a criação de sociedades de fachada;
- Realizar uma tributação decente das multinacionais (particularmente as GAFAM – Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) sobre o volume de negócios realizados em cada país;
- A fim de lutar contra o capitalismo rentista e especulativo, restringir a duração mínima da posse de ações, sendo as mais-valias mais incisivamente tributadas quanto mais rapidamente forem revendidas;
- Lutar contra a evasão fiscal, especialmente por parte das multinacionais, sendo um de seus melhores meios a tributação dos lucros consolidados proporcionalmente ao volume de negócios realizados em cada país;
- Proporcionar meios de financiamento para que profissões de interesse social e público possam ser exercidas sem o constrangimento de se tornar uma fonte de renda ou extração de recursos sustentável;
- Uma eventual “restruturação” mundial das dívidas dos Estados-nacionais.
Desglobalizar e relocalizar
- Rejeitar acordos de liberalização do comércio impostos pelas multinacionais, substituindo-os por acordos de cooperação internacional. Inspirados em um princípio de subsidiariedade econômica e em uma preocupação ecológica, esses acordos deverão permitir a todos os países satisfazer uma proporção significativa de suas necessidades por meio da produção local.
- Fomentar um pluralismo monetário – por exemplo, sob a forma de uma moeda não convertível ou somente parcialmente convertível emitida pelo Estado – para financiar os bens e serviços essenciais e o comércio local;
- (Re)conquistar uma soberania industrial de base e uma soberania alimentar. Soberania alimentar que pode se organizar, por exemplo, seguindo o modelo francês de Associações para a Manutenção de uma Agricultura Camponesa (em francês: AMAP), que coloca os consumidores em relação direta e permanente com horticultores e pecuaristas, mas também com produtores de queijo, padeiros, fruticultores etc.

Desmercantilizar rumo a outra economia
Por desmercantilização é preciso compreender todas as formas de melhor satisfazer as necessidades com menos mercadorias e menos dinheiro. Seguem na direção de uma economia convivialista quando a motivação não monetária prevalece sobre as motivações mercantis e monetárias:
- Trabalhar para erradicar o desemprego e fortalecer os benefícios sociais (ajuda à habitação, saúde, educação);
- Criar medidas de diminuição do tempo de trabalho, com forte incentivo à expansão da economia de tipo associativo ou comunitário;
- Desenvolver o que chamamos hoje de o comum ou os comuns, havendo várias práticas mais ou menos recentes avançando em combinações inéditas de recursos mercantis com recursos não mercantis e não monetários:
- economia social e solidária;
- produção colaborativa (da Wikipedia aos Fab Labs), com trocas livres ou entre pares (peer-to-peer), com formas de autoprodução e de mutualização de bens;
- plataformas de intercâmbio e de consumo colaborativo (sistema de trocas de serviços solidários, redes de trocas recíprocas, sistema de troca local etc.);
- economia da funcionalidade (o modelo dos serviços de empréstimos de bicicletas);
- economia circular (reutilização, reciclagem etc.).
- Prolongar a vida útil das mercadorias via interdição da obsolescência programada e imposição regulamentar de normas técnicas que facilitem sua reparabilidade;
- Reduzir as necessidades monetárias das famílias e, em particular, as famílias com poucos recursos, graças a medidas tais como: a tarifação progressiva da água e da eletricidade; a organização de transportes e serviços coletivos que tornam possível uma vida sem carro ou facilita o compartilhamento de automóveis; o fornecimento gratuito de informações adequadas sobre o custo real de uso de bens e a maneira de reduzir suas despesas etc.;
- Realizar uma orientação sistemática da política de contratos públicos em favor da inovação ecológica e social (normas de concepção ecológica e social nas licitações etc.).
- Desmonetizar a própria ação pública, organizando em grande escala a participação voluntária dos cidadãos no funcionamento dos serviços públicos e na produção dos bens coletivos, o que supõe imaginar formas inovadoras de colaboração entre as administrações e a população.
- Fazer uma política de arranjo/redução do tempo concebido para facilitar a diversificação da atividade, cujo objetivo explícito seria dar às pessoas mais tempo para participarem da vida social e da produção de bens comuns não monetários.
Construir o pós-crescimento com prosperidade
Uma sociedade convivialista será necessariamente uma sociedade do pós-crescentismo. É preciso traçar os contornos de uma sociedade viável mesmo sem crescimento do PIB. Isso é possível desde que uma parte não negligenciável das necessidades seja satisfeita de maneira não mercantil, por meio de relações diretas entre produtores e consumidores. O pós-crescimento será possível pelo processo de desmercantilização, desglobalização e relocalização.