Quão estranha e desconcertante é nossa situação atual! Desde o Iluminismo, o mundo se move sob o signo do Progresso. No entanto, vários desses avanços trouxeram catástrofes.
Jamais tivemos tantas razões para acreditar no Progresso, mas também jamais a humanidade teve tantas boas razões para temer as catástrofes que poderiam colocar em risco sua própria sobrevivência. Entre as promessas do presente e as ameaças que pesam sobre nosso futuro, não sabemos mais em que altura estamos. A cada dia, entretanto, as ameaças se fazem mais prementes.
Podemos mencionar, contudo, algumas oportunidade existentes:

- A expansão mundial do princípio democrático será infinitamente mais dificultada e complexa do que alguns puderam imaginar […] Contudo, é sempre em nome da democracia que, em todos os lugares do mundo, nos sublevamos.
- Torna-se realmente exequível pôr fim a todos os poderes ditatoriais ou corrompidos (hoje, em Bagdá, Beirute, Argel, Hongkong, Santiago etc.), sobretudo graças à multiplicação das experiências democráticas de base e ao aumento da circulação da informação.

- O fim da era colonial e o declínio do “ocidentalocentrismo” abrem o caminho para um verdadeiro diálogo das civilizações que, em contrapartida, torna possível o advento de um novo universalismo, de um pluriversalismo.
- A nova consciência mundial emergente é, ao mesmo tempo, a expressão e o resultado de novas modalidades de participação e de experiência cidadã sustentadas por uma conscientização ecológica agora global e, particularmente, sensível entre as novas gerações. Elas trazem para o debate público a questão do “bem viver”, do que é possível esperar do “desenvolvimento” ou do “crescimento” e de seus limites.

- As tecnologias da informação e da comunicação multiplicam as possibilidades de criação e de realização pessoal, seja no campo da arte e do saber, da educação, da saúde, da participação nos assuntos da cidade, do esporte ou das relações humanas ao redor do mundo.
- O exemplo do Wikipedia ou do Linux e das relações peer-to-peer mostra a extensão do que é possível realizar em matéria de invenção e de compartilhamento das práticas e dos saberes.

- A generalização dos modos descentralizados e autônomos de produção e de troca torna possível a “transição ecológica”, especialmente no campo da economia social e solidária.
- A erradicação definitiva da fome e da miséria constitui um objetivo alcançável, desde que haja uma redistribuição mais justa dos recursos materiais existentes e uma formação de novas alianças entre os atores do Norte e do Sul.