Fios do Tempo. E agora, Lula? – por Elimar Pinheiro do Nascimento

Na continuidade de nossas análises do cenário político, trazemos o artigo de Elimar Pinheiro do Nascimento (UNB / UFAM). Em cinco parágrafos, o autor faz o balanço do primeiro turno e apresenta sua visão do que é preciso fazer.

Como diz Elimar, se não houver claros sinais de que o centro político pode confiar em sua presença na coalizão, e sem uma política de afetos bem medidos por parte da campanha, corre-se o risco de Lula repetir neste segundo turno o mal feito do seu vice…

Desejo, como sempre, uma excelente leitura.

A. M.
Fios do Tempo, 06 de outubro de 2022



E agora, Lula?

Vamos ser claros e objetivos. Lula mais perdeu do que ganhou. Bolsonaro mais ganhou do que perdeu. Quem ganhou mesmo foi o sistema eleitoral brasileiro, do eleitor ao TSE, passando pelas urnas eletrônicas. Os institutos, e junto com eles jornalistas e analistas políticos, em sua maioria, perderam desastrosamente. Erraram em quase toda parte. Cometeram erros astronômicos, como em São Paulo, onde a posição dos candidatos no segundo turno foi completamente invertida, com larga maioria para o candidato do Presidente. E erros crassos como no RJ e no RS. Para confirmar a regra, superestimaram as intenções de voto da esquerda e subestimaram os da direita. Esta ganhou de lavada para o Congresso. No Senado, das 27 vagas, ganhou 17 e na Câmara dos Deputados fez a maioria absoluta. Além disso, o partido do Presidente elegeu a maior bancada, 99 deputados. 

Se antes Lula gozava de condições mais favoráveis para vencer, agora as condições são mais desfavoráveis, apesar da diferença de pouco mais de 6 milhões de votos. O candidato do PT terá contra ele os dois governadores do Sudeste já eleitos (RJ e MG) e a desvantagem do seu candidato em São Paulo. Aparentemente, será esta a região a decidir as eleições. 

As tropas lulistas saíram do primeiro turno desanimadas, e as do adversário, empolgadas, pelo medo que tinham de perder as eleições no primeiro turno. Assim, Lula tende a perder, porém, poderá ganhar. Para isso, contudo, terá que caminhar em direção ao centro, mais do que já fez escolhendo Alkmin como seu vice. Terá que mudar o discurso, explicitando melhor seu programa econômico, pois a derrota em São Paulo e Rio Grande do Sul, por exemplo, não é um simples voto de neofascistas ou conservadores religiosos fundamentalistas. É também um voto daqueles que querem ver o capitalismo avançando, um voto liberal. Conservador, mas liberal. 

Os desafios serão mostrar que pode fazer mais, não apenas para os pobres, mas para toda Nação, e que sabe como fazer mais no futuro; que irá respeitar os costumes, crenças e valores dos conservadores e que não apoia regimes autoritários. Clarear para todos que a ala esquerda de seu partido não será hegemônica em seu governo. Mais ainda, que seu governo será um governo de concertação entre todas as forças democráticas, e não um governo de esquerda. E para isso precisará fazer sinais claros, como a indicação do seu ministro da economia, chefe da Casa Civil e presidente do Banco Central, entre outros. Dizer e sinalizar de forma concreta. E mais, passar afeto e carinho nas suas falas. Afeto é um ingrediente importante para quebrar a cadeia do ódio.

Caso contrário, a depender do caminhar da carruagem arrisca repetir o feito de seu vice. Obter no segundo turno menos votos do que no primeiro. 

Elimar Pinheiro do Nascimento é sociólogo, com doutorado pela Université de Paris V (Rene Descartes, 1982), e pós-doutorado na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales. Professor associado dos Programas de Pós-Graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UNB) e do Programa Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Autor do livro: Um mundo de riscos e desafios: conquistar a sustentabilidade, reinventar a democracia e eliminar a nova exclusão social (FAP, 2020). E-mail: elimarcds@gmail.com


Catálogo do Ateliê de Humanidades Editorial


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