No contexto político contemporâneo, torna-se evidente a necessidade de entendermos a natureza e a ascensão dos movimentos de extrema direita. Foi por isso que realizamos, no Ciclo de Humanidades 2020, um encontro em agosto com o tema “Em busca do conservadorismo perdido?“. Como parte do encontro, André Magnelli fez uma entrevista com o cientista político Jean-Yves Camus, pesquisador e diretor do Observatório das Radicalidades Políticas (ORAP) da Fundação Jean Jaurès, na França. Publicamos hoje esta entrevista com legendas em português.
Começamos falando da importância de uma investigação aprofundada sobre as radicalidades políticas nas democracias contemporâneas. Camus fala sobre como as investigações sobre a extrema direita estão atrasadas na França, pois existe um consenso equivocado de que se tratam apenas de um fenômeno transitório associados a votos de protesto. Passamos, em seguida, à própria definição do que é a “nebulosa da extrema direita”, discorrendo sobre como é limitada a sua compreensão como sendo a “direita da direita”. Analisando como a extrema direita em todo o mundo compõem temas de esquerda e de direita, Camus mostra como ela se relaciona com um populismo “contra o sistema”, que representa a ideia de uma luta do povo contra as elites. Além disso, esclarece como as extremas direitas eventualmente assumi posições “libertárias”, de “crítica do do Estado”, o que ocorreu por vários cantos no contexto do combate à pandemia. Após isso, refletimos sobre os limites da atual compreensão da “direitização do mundo” por meio de analogias com os movimentos fascista e nazista dos anos 1930-1940, pois há diferenças consideráveis que não permitem tal confusão. Isso nos conduz, também, a uma breve análise de Camus sobre as diferenças entre a extrema-direita brasileira e a europeia, sobretudo no tocante a dois aspectos: o religioso e o militar. Por fim, terminamos com uma pergunta provocativa: diante da crise da globalização, as extremas direitas podem morrer ou terão vida longa?
Tempo do vídeo:
45 minutos e 20 segundos
Quem é Jean-Yves Camus?
Jean-Yves Camus (nascido em 1958) é um cientista político francês, pesquisador diretor do Observatoire des Radicalités Politiques (ORAP) da Fondation Jean Jaurès, especialista em movimentos de direita radical e extrema direita na Europa. É também pesquisador do IRIS (Institut des relations internationales et stratégiques). Autor de vários livros, dentre eles, com Avec Nicolas Lebourg: Les Droites extrêmes en Europe, Paris, Le Seuil, 2015.
O que é pesquisado pelo Observatoire des Radicalités Politiques (Observatório das Radicalidades Políticas) da Fundação Jean-Jaurès?
Este observatório é a primeira estrutura deste tipo, dirigido por Jean-Yves Camus, que visa racionalizar a análise das dinâmicas radicais que estão em ação nas sociedades europeias e que estão desafiando o paradigma do humanismo igualitário. Essas radicalidades são políticas, religiosas e teológico-políticas.
Seu objetivo principal é desenhar uma cartografia dinâmica desses movimentos extremos em suas dimensões eleitoral, ideológica e ativista, colocando os acontecimentos recentes em seu contexto de longo prazo.
Para isso, estudará os principais movimentos e identificará os laços pessoais e ideológicos entre esses diferentes movimentos, mas também entre esses movimentos e o campo político francês como um todo.
Ele quer ser capaz de compreender com muita precisão as mudanças sócio-geográficas em seus eleitorados e sua ligação com o descrédito sofrido pelos partidos do governo.
Finalmente, visa identificar os temas sociológicos com base nos quais estes movimentos capitalizam seu sucesso.
Em última análise, o objetivo é medir se a “luta cultural” está atualmente se inclinando a favor dos extremos, como é freqüentemente afirmado, e de acordo com que lógica.
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