O corpo tem suas razões amorosas – por Paulo Henrique Martins

Começamos o Fios do tempo: análises do presente de 2020 com um pequenino artigo de Paulo Henrique Martins sobre o corpo, as emoções e a mente. Refletindo sobre as sabedorias e técnicas “orientalistas” cada vez mais assimiladas nas sociedades “ocidentais”, ele traz, com simplicidade, os princípios da filosofia taoísta e sua importância em um contexto de emergência da consciência ecológica e de buscas de novas formas de vivência do corpo e do espírito.

O consumismo inibiu o entendimento do corpo como totalidade sistêmica, reforçando a visão fragmentada. No momento, há uma consciência ecológica emergente que está ajudando esta integração. Os agrotóxicos, o desmatamento irracional e a poluição do ar vêm levando muitos indivíduos a entenderem que o corpo tem suas razões e que nossa sobrevivência depende de uma compreensão integrativa da vida.


O corpo tem suas razões amorosas

Fios do Tempo, 15 de janeiro de 2020

Thérèse Berthérat, no seu O corpo tem suas razões (1976), clássico da Antiginástica, refere-se ao corpo como uma casa, como uma unidade inseparável entre músculos, emoções e mente. O desenvolvimento deste método se fez paralelamente a outros como aqueles da bioenergética, das massagens, da alimentação balanceada, ao longo do século XX. Eles se posicionam em sentido inverso ao método ocidental cartesiano que propunha o corpo como um sistema formado estruturalmente por partes separadas, como as de um relógio, e que inspirou a biomedicina moderna.

Esta reviravolta aconteceu a partir da divulgação no Ocidente de métodos e práticas orientais como yoga, acupuntura, shiatsu, alimentação vegana, artes marciais, entre outras. Constatamos, porém, que a introdução das novidades orientalistas se fez, muitas vezes, de forma fragmentada e guiada por impulsos consumistas. O consumismo inibiu o entendimento do corpo como totalidade sistêmica, reforçando a visão fragmentada. No momento, há uma consciência ecológica emergente que está ajudando esta integração. Os agrotóxicos, o desmatamento irracional e a poluição do ar vêm levando muitos indivíduos a entenderem que o corpo tem suas razões e que nossa sobrevivência depende de uma compreensão integrativa da vida.

A filosofia taoísta clássica chinesa dá umas dicas interessantes para uma visão mais ecológica do corpo. Ela sugere haver três princípíos a serem observados: o primeiro é o da limitação. Meditando sobre nosso corpo vemos que ele é constituído por uma relação tensa entre unidade e dualidade, um corpo que se desdobra em orifícios, braços e pernas separadas. O segundo princípio é o do movimento. O corpo se transmuta sempre pela unidade na dualidade: inspiração e expiração. O terceiro é o da consciência.

A gestão dos limites corporais depende de se encontrar o Caminho do Meio entre as tendências opostas do Yin e do Yang. Pessoas inconscientes reagem de modo desequilibrado aos humores do coração; pessoas conscientes organizam suas decisões para uma vida amorosa e moralmente saudável.

Paulo Henrique Martins

Professor titular da UFPE
Autor do livro “Itinerários do Dom: teoria e sentimento
Autor também de “Teoria crítica da colonialidade”,
que será lançado em breve pelo Ateliê de Humanidades.

* Texto publicado no Jornal O Povo, no dia 04 de janeiro de 2020

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