Fios do Tempo. Prudente como serpente, simples como pomba: um Platão atravessa o poder pastoral em Foucault – por Aldo Tavares

Hoje, no Fios do Tempo, temos a elaboração filosófica de Aldo Tavares sobre o conceito de poder pastoral em Foucault. Na contramão das banalidades sobre Platão, Aldo se detém em alguns dos últimos escritos platônicos (Sofista e Político), a fim de mostrar como se elabora aí uma “metafísica amodal”, que rompe com os dualismos aos quais sua filosofia é associada. Fazendo a proposta inusual de que Nietzsche, Foucault e Deleuze “pensam com Platão, e não contra“, Aldo elabora uma interpretação em diálogo que é, também, um esforço de pensamento próprio sobre o poder e a representação.

Para ele, só bem compreendemos o que é o poder caso façamos metafísica; e, para tanto, retornemos a um Platão perdido sob camadas de platitudes.

Concordo com o fio tecido por Aldo Tavares, pelo qual Platão se torna o fiador-mor das tecidos conceituais que advêm até hoje? Não tanto. Mas as dissonâncias entre-dois caminham com, e não só contra, um e outro. Sem concordar necessariamente, estamos em concórdia sempre.

Professo, além disso, meu profundo respeito por aqueles amigos que fazem, com amor, a filosofia ao modo clássico: uma elaboração conceitual, cuidadosa com a consistência própria da linguagem, em diálogo com uma tradição de gigantes que abriram o horizonte pelo qual pensamos.

Desejo, como sempre, uma excelente leitura.
E um bom feriado pascoal!

André Magnelli
Fios do Tempo, 07 de abril de 2023


Catálogo do Ateliê de Humanidades Editorial


Prudente como serpente, simples como pomba:
um Platão atravessa o poder pastoral em Foucault

Em seus últimos dias, sua inteligência viveu no 8º andar, o último, de um prédio da rua de Vaugirard, 285, em Paris, de onde podia olhar a feia estrutura metálica de Eiffel. Na calçada do edifício, vê-se, um pouco à esquerda, Le Vaugirard, de onde degustou seus cafés da manhã. A rua ficara dentro das antigas muralhas da cidade, e sua muralha de livros o defendeu no apartamento, de onde retirou, várias vezes, Platão não para autoajuda, entretenimento ou para dar sono antes de dormir, e sim para ler sua metafísica amodal, visto que, sem ler essa metafísica, não se compreende a vastidão política do filósofo grego, que, aliás, atravessa Nietzsche, Gilles Deleuze e nosso morador do 8º andar, Michel Foucault. 

De Platão, as páginas de Político dão sequência às de Sofista; porém, de Foucault, Segurança, território e população só registra as palavras do personagem-conceito Estrangeiro da obra Político, excluindo o mesmo personagem que argumenta em Sofista. Nessa mesma obra, a fim de pensar o poder pastoral, o filósofo francês cita Crítias, A república, As leis. Em Introdução ao estudo dos diálogos de Platão (2020, p. 173), Nietzsche escreve que, sob o olhar de Aristóteles, os últimos escritos de Platão (Parmênides, Teeteto, Sofista, Político, Filebo) são os mais fracos; o filósofo alemão, contudo, assevera que tais páginas são, inteiramente, diferentes do Platão anterior, afirmando ainda que o discípulo aparenta não conhecer ou conhecer pouco os diálogos do mestre.

Dos 47 aos 80 anos (ou de 380 a 347 a. C), Platão põe abaixo sua filosofia dualista, a dos mundos sensível e suprassensível, período filosófico que atravessa Nietzsche, Foucault e Deleuze, já que eles pensam com Platão, e não contra, por isso o Estrangeiro de Político pulsa nas linhas de Segurança, território e população. No entanto, antes de lermos um pouco sobre o conceito microfísica do poder em uma parte desse livro de Foucault, o “detalhe” desse poder já era uma categoria da teologia e do ascetismo, que o filósofo francês escreve em Vigiar e punir (1987, p. 128-29), duas páginas em que Jean-Baptiste de La Salle, autor de Tratado sobre as Obrigações dos irmãos das escolas cristãs, apresenta uma mística do cotidiano (ou das “pequenas coisas”), servindo de base à microfísica do poder (ou, segundo Deleuze, ao poder Menor ou molecular).

Ora, a imagem de La Salle é a do sacerdote, e Nietzsche soube interpretar o poder do sacerdote com Platão, pois, afinal, o sacerdote representa a extensão conceitual do guardião de A república. Sobre poder, o próprio Foucault reconhece em Microfísica do poder (1979, p. 75) que a filosofia nietzschiana é suficiente para nos ajudar a conhecer esta coisa enigmática, ao mesmo tempo presente e oculta; enigma, aliás, que Karl Marx não viu, o que, portanto, não nos ajuda a saber o-que-é o poder, na medida em que, sem saber o seu ser, a dificuldade de encontrar formas de luta adequadas jamais virão se ignorarmos o-que-ele-é, vale dizer, o “ser”, que passa pela ontologia ou pela lógica amodal da metafísica platônica. Desde A república, ele é enigmático: ausente-e-presente ou ele é-e-não-é.[1]

Qual correspondência entre Tratado sobre as obrigações dos irmãos das escolas cristãs e microfísica do poder? Se o poder é ser-e-não-ser, por que Foucault se serve desse Tratado para pensá-lo em seu “detalhe”? Qual “detalhe” há em ser-e-não-ser que possa se relacionar como o “detalhe” do Tratado? Quando Foucault afirma, em Les Nouvelles littéraires, no dia 28 de junho de 1994, “sou simplesmente nietzschiano” (1993, p. 411), confirma-se que sua concepção de poder passa por Nietzsche, concepção essa relacionada à verdade, que Nietzsche a herdou de Platão. Então, outra pergunta: qual natureza dessa verdade? Ora, Nietzsche não leu a verdade em alemão e muito menos Foucault a leu em francês, porque, sabendo que Platão os atravessa, a verdade lida foi em grego, Alétheia. Uma vez considerado isso como o óbvio, Alétheia responde às primeiras perguntas deste parágrafo, o que permite compreender o porquê de essa verdade transpor o Tratado sobre as obrigações dos irmãos das escolas cristãs, a microfísica do poder e o ser-e-não-ser, formando um elo, portanto, entre Tratado, microfísica e ser-e-não-ser.

 Gigantesco trabalho histórico-mítico-filológico de referência única para saber com detalhes o-que-é Alétheia, Marcel Detienne escreveu a obra-prima Os mestres da verdade na Grécia antiga, publicada na França, em 1967, onde Alétheia – da tradução grega ao latim vērĭtās – eleva o sentido de ser-e-não-ser, de presente-e-ausente, de claro-e-escuro. Alétheia é, portanto, ao mesmo tempo, o-que-é-e-o-que-não-é, que, segundo Platão, é a representação, conceito pensado pela metafísica amodal, ou seja, a representação é identidade-e-não-identidade. Agora, nesse sentido, assimila-se a relação entre Tratado sobre as obrigações dos irmãos das escolas cristãs e microfísica do poder, pois o detalhe está no paradoxo enquanto representação.

Posto isso, podemos ir a um breve trecho de Segurança, território e população, onde lemos sobre o poder pastoral, poder pensado – seja dito – por Platão em Político, extensão de Sofista. Foucault me chama atenção quando assevera que o poder pastoral pertence a um caráter, essencialmente, “[…] oblativo e, de certo modo, transicional. O pastor está a serviço do rebanho, deve servir de intermediário entre ele e os pastos […]” (2008, p. 171). Ora, um poder oblativo não apenas oferece, mas expõe sua oferenda à luz do dia, às claras, à vista de todos, servindo-se de intermediário – ou de passagem – entre ele e os pastos, o intermédio de que depende o rebanho. A verdade do pastor, portanto, é-o-que-é, ou seja, a verdade é representação; porém, bem mais de que representação material, trata-se de representação imaterial dos signos, que, uma vez cuidados pelo poder pastoral, atentam para (des)cobrir a realidade. O poder do pastor, entretanto, não cuida do outro enquanto representação, ele também cuida de (se) representar enquanto intermédio a se movimentar entre o rebanho e o pasto, entre o rebanho e a salvação do rebanho.

Diria Deleuze, o poder pastoral é entre-dois: ausência-e-presença, o que justifica Foucault ter escrito Tratado sobre as obrigações dos irmãos das escolas cristãs, de Jean-Baptiste de La Salle,nas páginas de Vigiar e punir, afinal, as linhas desse sacerdote aludem ao poder Menor, ao da representação, isto é, ao poder do pastor, que, recusando a força imposta pela violência, serve-se da força da boa vontade, visto ser força política bem recebida pelo rebanho, força de como, segundo Foucault, “deve ser” (1987, p. 149). O nome de La Salle se justifica, então, pelo “deve ser” ou, simplesmente, pelo “ser” em detalhes, no caso, no mosteiro, onde “ser” nos remete à teologia e ao ascetismo, fontes do conceito foucaldiano de microfísica do poder – José Guilherme Merquior observa que “entre nós, barbaramente autodesignado como ‘foucaultiano’” (1985, p. 9) –. Seja no hospital, seja na escola, seja no mosteiro, “ser” nesses lugares é “sinal natural” (1985, p. 125) de o indivíduo representar a instituição conforme “deve ser” a própria instituição. Ao repartir, ao colocar em série, ao compor, ao normalizar, o poder pastoral produz realidade Menor, pois, aos olhos de Deus – e, por intermédio, aos olhos do pastor –, nenhuma imensidão é maior que um detalhe (1987, p. 128)..

Estrangeiro

Personagem-conceito da obra-prima Sofista, também denominado Hóspede de Eleia, Estrangeiro põe abaixo o dualismo platônico, revertendo, pois, o próprio platonismo. Sem lugar fixo, movimenta-se entre, o que permite a ele pensar fuga sobre fuga. Vinculando uma das origens do conceito microfísica do poder ao ascetismo, Foucault escreve em Segurança, território, população que, “no que se chama de vocabulário político clássico da Grécia, a metáfora do pastor é uma metáfora rara” (2008, p. 185); ela, porém, realiza-se, enquanto exceção maior, capital, em Platão (2008, p. 185), podendo ser lido esse poder nas páginas que dão continuidade a Sofista, a saber, Político, onde se caracteriza a excelência de “[…] a própria natureza do poder político tal como se exerce na cidade […] a partir desse modelo da ação e do poder do pastor sobre seu rebanho. Será que a política pode efetivamente corresponder a essa forma da relação pastor-rebanho? […]” (2008, p. 187). Para Foucault, essa, a questão fundamental na obra de Platão, que, para ser compreendida, lê-se primeiro Sofista, cujas páginas são o ápice de uma metafísica que pensa o que há entre o Ser absoluto e o Não-ser absoluto.

A própria semântica da palavra político é um paradoxo entre o múltiplo (poli)e a unidade (tico), entendendo como paradoxo, segundo Deleuze, “o que destrói o bom senso como sentido único, mas, em seguida, o que destrói o senso comum como designação de identidades fixas” (1974, p. 3). Político emite dois sentidos contrários ao mesmo tempo, não havendo jamais, portanto, síntese, por isso fuga sobre fuga em razão do conceito de movimento em Sofista e, por conseguinte, em Político, razão de o poder pastoral vigiar o múltiplo a fim de que ele permaneça na condição de unidade. Como o Estrangeiro assevera, “a arte de pastorear é política” (1983, p. 212), no sentido de que cuida do rebanho por meio da boa vontade de (entre)laçar linhas assimétricas, dessemelhantes, a ponto de não haver distinção entre o maior e o menor, pois “a tudo que se conserva o meio entre dois extremos” (1983, p. 232). Conservar o “meio” é conservar ou entre-dois, ou entre dessemelhantes, ou entre assimétricos, espaço em que não se conserva o conflito por não haver identidade. Platão vê conflito na política quando “eles agem fora de todo bom senso, buscando apenas o comodismo imediato e, unindo-se a seus semelhantes, cheios de aversão pelos outros deixam-se guiar sobretudo por suas antipatias” (1983, p. 260), quer dizer, Platão vê conflito político onde há identidade. Assim, ao procurar seus semelhantes, a política não se (entre)lança em razão de não haver entre-dois; pertence à natureza do poder pastoral, entretanto, mover-se entre, e isso pode ser lido em uma obra de Gregório Magno em que sistematizou o poder do pastor.

Gregório Magno

Teologia, outra fonte do conceito microfísica do poder, e Foucault destaca este nome: Gregório Magno (540-604), sacerdote que não quis ser papa, mas, quando foi, escreveu a chamada bíblia do pastorado cristão: Regra pa, cuja sistematização representa a comunhão, pelo poder pastoral, entre macropoder e micropoder; Regra pastoral ilumina o caminho entre a Igreja e o mais íntimo de uma casa. Em razão de iluminar a passagem entre o poder Maior e o poder Menor, o pastor veste-se de transparência, quer dizer, veste-se de ser, não havendo cisão, portanto, entre quem-é e o-que-faz; o poder do pastor, contudo, porque representa Deus, deve o seu ser estar mais próximo do Ser absoluto com a finalidade de exercer poder, ficando tamanha evidência na Primeira Parte, onde a arte de governar passa, primeiro, por um estudo atento e meditado, “visto que o governo das almas é a arte das artes” (2010, p. 35).

Governo das almas… ou governo das mentes, atento e meditado pela luz da ciência, estende-se na condição de olhar, o firme sentido de apoio da vigilância. Mas o que o poder pastoral vigia? Ora, ele vigia o ser ou a representação; no entanto, por estar mais perto do Ser absoluto, o pastor deve ver, mas sem ser visto (2010, p. 42), pois, se “nosso ato interior fica escondido diante dos homens” (2010, p. 42), cabe tão somente (des)cobri-lo sem “[…] desaprovar o poder em si […]” (2010, p. 43), poder esse que age com transparência, tornando-se claro para todos que sua humilde finalidade só quer servir ao rebanho a partir de cada ovelha. Pensar o poder sacerdotal não só significa Foucault rever Nietzsche como também ampliar esse poder em seu espaço natural, o microfísico, cujo olhar vê, sem ser visto. Assim sendo, tanto Nietzsche quanto Foucault possuem o olhar atento à representação, afinal, “a arte de punir deve, portanto, repousar sobre toda uma tecnologia da representação” (1987, p. 94). Tal como o guardião de Platão, Gregório Magno desconfia de o-que-é, posto que o ser se oculta sob sua própria transparência, vale dizer, não se oculta, já que se oculta à luz do dia. Paradoxo. “E, justamente, é considerado hipócrita aquele que, simulando a disciplina, muda o exercício pastoral em exercício de dominação” (2010, p. 81). Seja pastor, seja ovelha do rebanho, a representação de ser simula, quer dizer, quem não-é-é, permitindo que pastores “se apresentem diante dos fiéis de tal forma que estes não se envergonhem de a eles confiar os próprios segredos” (2010, p. 73). Para confiar, necessário o pastor ser igual à ovelha a fim de que não haja conflito, pois o poder pastoral sabe que a representação de ser guarda segredos. Assim, não prevalecendo a autoridade de pastor para que a representação de ser ovelha revele o que ela oculta, o poder pastoral iguala-se ao rebanho, não se alegrando, portanto, de comandar pessoas, e sim de servi-las. O poder pastoral é útil, o que permite a esse poder Menor não ser temido.

A representação é simulação, quer dizer, porque a própria representação simula, ela, que-é-o-que-é, possui a habilidade de não fazer ver quem não-é, diga-se, se o não-ser oculta-se em o ser, a representação é um entre-dois, razão de Gregório Magno citar Mateus 10,16 na terceira parte de Regra: “Sejam prudentes como serpentes e simples como as pombas. Isso significa que, no coração dos eleitos, a astúcia da serpente deve tornar perspicaz a simplicidade da pomba, e a simplicidade da pomba deve moderar a astúcia da serpente” (2010, p. 134). O sentido do exposto não é o prudente ser serpente e pomba, pois, se a astúcia deve tornar perspicaz a simplicidade, e a simplicidade deve moderar a astúcia, a serpente é pomba e a pomba, serpente, ficando o rosto-palavra do prudente entre astúcia-e-simplicidade. A representação do prudente é, portanto, ser-e-não-ser. O poder pastoral não só se encontra perante esse paradoxo humano como esse poder microfísico é paradoxal segundo o próprio Foucault em Microfísica do poder, onde ausência é presença.

Deleuze-e-Foucault

O filósofo francês está em uma das trilhas deixada por Platão, qual seja, a do devir, que só ocorre em razão do conceito de entre, espaço de exceção em que as diferenças, em que as multiplicidades acontecem. O mais profundo devir não se lê em Heráclito, e sim em Platão, já que este pensou, segundo a metafísica amodal, o que ocorre entre o Ser absoluto e o Não-ser Absoluto.

Filósofo do entre, Deleuze pensa a microfísica do poder como poder Menor ou como poder molecular, ampliando ainda mais o que herdou de Platão, de Nietzsche e de Foucault. No livro Foucault, Deleuze pensa o poder enquanto pensamento do lado de fora, referindo-se ao artigo foucaldiano O pensamento do exterior, de 1966, sobre Maurice Blanchot. Sabe-se: a origem de o fora só pode ser compreendida pelo pensamento metafísico amodal sobre o entre, conceito o qual se aproxima do que Blanchot chama de espaçamento, de neutro, sabendo que o fora se faz dentro, sendo nem fora nem dentro, o que o torna muito mais longínquo do que o mundo exterior. Segundo Deleuze, “o apelo ao lado do fora é um tema constante em Foucault” (1991, p. 94), queé não um limite fixo, mas uma matéria móvel de pregas e de dobras que constituem o dentro: “nada além do lado de fora, mas exatamente o lado de dentro do lado de fora” (1991, p. 104). O panóptico é o vigiar entre-dois e, conforme Deleuze, “a obsessão constante de Foucault é o tema do duplo” (1991, p. 105); o duplo, porém, jamais projeta o interior, e sim uma interiorização do lado de fora.

O poder Menor se faz por dobra e, sendo ele pastoral, pulsa nele um ponto de inflexão, espaço de exceção onde se imprime sua plasticidade, porque esse ponto-dobra é-e-não-é ao mesmo tempo-espaço. Na história, tantos são os nomes que exerceram o poder de pastor, exemplos: o guerreiro medieval, citado em Mil platôs, Arminius; o padre José de Anchieta, cujo rosto-palavra deformou o hábito nativo por meio da máquina semântica; cabo Anselmo, que, assim como Anchieta, é o que Deleuze chama de máquina de guerra. Sim, o poder pastoral é máquina de guerra, mas isso já pertence a outras linhas de um artigo.

Referências

DELEUZE, Gilles. Foucault. Tradução de Claudia Sant’Anna Martins. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991.

DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. Tradução de Luiz Roberto Salinas Fortes. São Paulo: Perspectiva, 1974.

DETIENNE, Marcel. Os mestres da verdade na Grécia arcaica. Tradução de Andréa Daher. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1988.

DOSSE, François. História do estruturalismo. 1. O campo do signo, 1945/1966. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Editora Ensaio, 1993.  

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

FOUCAULT, Michel. Segurança, território e população. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, Michel. Vigia e punir. Tradução de Lígia M. Pondé Vassalo. Petrópolis: Editora Vozes, 1987.

MAGNO, Gregório. Regra pastoral. Tradução de Sandra Pascoalato. São Paulo: Editora Paulus, 2010.

NIETZSCHE, Friedrich. Introdução ao estudo dos diálogos de Platão. Tradução de Marcos Sinésio Pereira Fernandez e de Francisco José Dias Moraes. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2020.

PLATÃO. Político. Tradução de José Cavalcante de Souza, de Jorge Paleikat e de João Cruz Costa. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

PLATÃO. O sofista. Tradução de Henrique Murachco Juvino Maia Jr. e de José Trindade Santos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2011.


Nota

[1] Ao grafar com “-e-”, e não com “e”, entre dois termos assimétricos, há o sentido de esses termos
  estarem “entre”, mas “entre” não como termo preposicional de uma sintaxe, e sim como conceito, cujo
  sentido, além de não os separar normativamente pela conjunção adicional “e”, arrasta todas relações de
  dois signos assimétricos, fazendo escapar para fora de seus termos, no caso, “ausente-e-presente” e “é-e
  não-é”. Uma multiplicidade pulsa apenas no “-e-”, negando, portanto, o dualismo entre “abrir e fechar”,
  “dentro e fora”, “se e não ser”. O “-e-”, fissura por que passam linhas, “é nem um nem outro, é sempre
  entre os dois, é a fronteira, sempre há uma fronteira, uma linha de fuga ou de erro, mas que não se vê,
  porque ela é o menos perceptível. E, no entanto, é sobre essa linha de fuga que as coisas se passam, os
  devires se fazem, as revoluções se esboçam. ‘As pessoas fortes não são as que ocupam um campo ou
  outro, é a fronteira que é potente’”, escreve Gilles Deleuze em Conversações, pp. 60-1. O filósofo,
  porém, não registra “-e-”, e sim “E”, sem as linhas. Eu escrevo “-e-”, porque o itálico passa a impressão
  de movimento, além de os dois traços serem linhas que atravessam o espaço de exceção.

Aldo Tavares é livre-pesquisador do Ateliê de Humanidades, professor de filosofia e mestre em filosofia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde defendeu a dissertação “A inocência infantil como potência do falso: platôs entre as fábulas de Platão e a criança de Nietzsche-Deleuze”.

Deixe uma resposta

por Anders Noren

Acima ↑

%d blogueiros gostam disto: