Apresentação do tema
A pandemia do novo coronavírus tornou agudo o esgotamento do modelo de uma sociedade em que a economia predomina sobre a vida humana e os laços sociais, fazendo com que os indivíduos e os grupos sejam entregues à sua própria sorte e busquem ansiosamente, como empreendedores utilitaristas de si mesmos, a sua própria sobrevivência – ou, no melhor dos casos, uma tão desejada prosperidade econômica. O divórcio entre economia e sociedade se manifestou no discurso público pelo suposto conflito entre duas urgências: a de manter a atividade econômica e a de proteger a saúde da população. Todavia, quando observamos mais atentamente, percebemos que mais importante do que uma suposta contradição entre, de um lado, a necessidade econômica de lucro, emprego e renda e, de outro, o imperativo de proteger e promover a vida da população – ou entre, de um lado, a lógica estritamente econômica do mercado e, de outro, os anseios por uma organização justa dos processos de reprodução da vida e da sociedade – está a emergência da questão (e prática) da solidariedade.
Desta forma, no segundo encontro do Ciclo de Humanidades Virtual 2020, a ser realizado no próximo dia 28 de maio (19h-21h), o Ateliê de Humanidades, juntamente com a BiblioMaison/Consulado da França, traz a questão e o desafio da solidariedade para o centro das atenções, tirando-o do sombreamento feito por outras demandas que aparecem quase sempre como maiores e mais urgentes. Pois, se é claro que, em uma sociedade que prima pelo individualismo, as questões de injustiça social tendem a ser desprezadas e as fragilidades do ser humano, menosprezadas, neste momento de urgências econômica e sanitária, as questões de justiça e as demandas de cuidado emergem como sendo as urgências das urgências, como se vê nas iniciativas comunitárias e nas campanhas públicas e mesmo privadas mundo afora. Contudo, para além de formas de assistência mútua em tempos de exceção e com “prazo de validade” condicionado à atual pandemia, as solidariedades da justiça e do cuidado podem ser vistas como orientação individual e social, como os próprios fundamentos da vida social, política e econômica – e mesmo como a própria fonte de sentido da existência individual.
No encontro “Solidariedade como urgência e orientação: construir uma sociedade de justiça e cuidado”, vamos refletir não apenas sobre as questões da justiça e do cuidado em nossas sociedades em crise, como também vamos propor um debate público sobre as suas interdependências para a existência de uma sociedade livre e democrática. Com a participação de Natália Fazzioni, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e de Thiago Panica Pontes, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e contando também com uma entrevista inédita do sociólogo francês Serge Paugam (Directeur de recherche au CNRS / Directeur d’études à l’EHESS), faremos um debate que percorrerá várias questões: será que a solidariedade pode ser uma orientação capaz de reatar o nó entre economia e vida, democracia e economia? Será que conseguiremos reconstruir as solidariedades pública e privada, fortalecendo o papel do Estado como organizador da justiça, dos direitos e do bem-estar social, bem como das associações como práticas vividas e cotidianas de cooperação e cuidado? Será que, diante da pandemia, haverá não apenas uma tomada de consciência de nossas desigualdades e vulnerabilidades, mas também uma saída de nossos isolamentos sociais rumo à construção de uma sociedade de mais justiça e cuidado?
Local:
Aplicativo Zoom (link será disponibilizado no ato de inscrição)
Data:
28 de maio (quinta-feira)
Horário:
das 19 – 21h
Certificado:
Será disponibilizado Certificado, pelo Ateliê de Humanidades/BiblioMaison, para participação neste evento. Caso haja participação de no mínimo 75% dos dias, será dado o certificado de participação no Ciclo de Humanidades como um todo.
Bom debate! Já há informações sobre próximos encontros do Ciclo de humanidades virtual, ou é melhor acompanhar as redes sociais e o blog para se interar dos próximos temas?