No próximo dia 29 de agosto, no Ciclo de Humanidades, o Ateliê de Humanidades, em parceria com a BiblioMaison / Consulado da França e o Goethe Institut / Consulado da Alemanha, se propõe a refletir sobre o sofrimento psíquico na contemporaneidade, considerando suas causas sociais, experiências individuais e articulações políticas. Para tanto, convidamos Arthur Bueno (Wissenschaftlicher Mitarbeiter da Universidade de Frankfurt e Associate Junior Fellow da Universidade de Erfurt), que dialogará a crítica social da Escola de Frankfurt – em especial a teoria do reconhecimento de Axel Honneth e teoria da aceleração de Hartmut Rosa – com o diagnóstico da “fadiga de ser si” feito pelo francês Alain Ehrenberg. Neste dia, teremos a oportunidade não apenas de analisar as molas da depressão e dos conflitos políticos atuais, como também de pensar sobre os sentidos da autonomia e o advento possível de uma sociedade pós-depressiva.
Apresentação
A virada para o século XXI se deu em larga medida sob o signo da depressão. O “demônio do meio-dia” – título do best-seller publicado em 2001 por Andrew Solomon – pareceu não só afetar parcelas cada vez mais amplas da população, mas também simbolizar alguns dos problemas centrais da sociedade contemporânea. O aumento nas taxas de depressão foi visto por muitos como o índice de uma nova ordem social, na qual cada indivíduo seria instado a “ser si mesmo”, assumindo a responsabilidade pela afirmação de uma vida autêntica e bem-sucedida num contexto marcado pelo declínio dos suportes sociais e pelo crescimento da desigualdade social, da competição e da precariedade. A experiência do sujeito depressivo revelaria o caráter psicologicamente problemático da exigência de ser um “empreendedor de si mesmo”, quando a expectativa de uma vida autêntica se converte em vazio e exaustão, quando a busca por autodeterminação se manifesta como sujeição a leis supostamente inescapáveis.
Hoje, porém, chegamos a um ponto no qual as tensões dessa configuração social parecem ter se intensificado de tal modo que sua reprodução se tornou seriamente comprometida. Da Primavera Árabe ao Occupy Wall Street, de Junho de 2013 aos “gilets jaunes”, do Brexit às eleições de Trump e de Bolsonaro, alguns dos principais acontecimentos políticos do nosso tempo sugerem um esgotamento da ordem social que, bem ou mal, veio a se estabilizar nas últimas décadas. Tais processos são com frequência entendidos como expressões de diferentes crises contemporâneas: crise da representação política, crise da economia financeirizada, crise da globalização, para ficar em algumas. Seria possível, no entanto, compreendê-los também do ponto de vista das formas atuais de sofrimento psíquico? Em que medida os novos contornos assumidos pelas lutas políticas podem ser encarados como articulações das tensões afetivas características do que podemos chamar, metonimicamente, de sociedade depressiva? A que ponto, enfim, os conflitos políticos do nosso tempo contêm os germes de uma outra ordem social, em vias de se estabelecer?
Informações:
Local: Espaço da Bibliomaison/Médiathèque da Maison de France
Av. Presidente Antonio Carlos 58, Centro, RJ, 11º andar.
Data: 29 de agosto
Horário: das 19:00 às 20:30h (podendo se estender até 21h)
Conferencista:
Arthur Bueno
Professor e pesquisador assistente (wissenschaftlicher Mitarbeiter) no Departamento de Filosofia da Universidade de Frankfurt (2019-) e pesquisador associado no Centro Max Weber da Universidade de Erfurt (2019-). Professor visitante no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (2018-). Realizou pós-doutorado (Alexander von Humboldt/Capes) em Sociologia e Filosofia Social no Centro Max Weber de Estudos Sociais e Culturais Avançados da Universidade de Erfurt, Alemanha (2016-18), e na Universidade Paris Nanterre, França (2017-18). Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (2014), com estágio-sanduíche na Universidade Johann Wolfgang Goethe de Frankfurt am Main (2012-13).
Certificação
Será disponibilizado Certificado, pelo Ateliê de Humanidades/BiblioMaison, para participação neste evento. Caso haja participação de no mínimo 75% dos dias, será dado o certificado de participação no Ciclo de Humanidades como um todo.