As questões governamentais tendem a ser vistas, em nosso Estado do Rio, como sendo de inteira responsabilidade da administração pública. Contudo, olhando mais amplamente, percebemos que, em um regime democrático, é imprescindível a atuação dos atores no processo decisório sobre temas que lhes são relevantes. O poder público não se reduz à administração, pois ele envolve também a esfera pública composta de uma participação efetiva dos cidadãos associados (indivíduos, organizações públicas e privadas). Dessa forma, eles não apenas exigem e controlam as esferas administrativas e executivas, mas também podem ser coparticipantes nas deliberações, decisões e práticas governamentais.
Vivemos, no Estado do Rio de Janeiro, tempos de grande instabilidade social, com altos índices de desemprego, falência do sistema de saúde e aumento substancial da violência, que nos conduzem a uma relativa falta de senso de futuro e a um conformismo e uma insatisfação improdutivos. Não podemos simplesmente esperar que a administração pública tenha um pacote de soluções técnicas que, como num passe de mágica, resolvam os problemas de endividamento e restrição orçamentária e, ao mesmo tempo, gerem renda e novos empregos.
Nesse sentido, precisamos pensar as relações sociais dentro dos municípios de maneira mais abrangente e perceber a necessidade de novas iniciativas vindas das diferentes instâncias da sociedade. Ainda que tenham eventualmente posições antagônicas, elas podem se complementar num conjunto de relações, criando um caminho para a superação da crise econômica. Todos nós (pequenos empreendedores e grandes empresários; agências de fomento e universidades; cidadãos e associações civis; órgãos de classe e cooperativas econômicas), somos, além do corpo político eleito e de seu quadro administrativo, copartícipes de estratégias e práticas de desenvolvimento voltadas à formação e ao fortalecimento de um “ecossistema empreendedor”.
Por isso, proponho que usemos o “empreendedorismo” no seu sentido mais amplo: empreender não é apenas abrir um negócio, mas é, sobretudo, uma capacidade de engajar- -se em projetos complexos, contando com ajuda e auxílio de outros e objetivando sua execução e conclusão. É dessa forma que o empreendedorismo público e o engajamento político permitem o nascimento de condições para o surgimento de negócios. Se nós, como cidadãos, não começarmos a tomar parte dos problemas da cidade, bem como de suas potencialidades de crescimento, corremos o risco de nos afundar cada vez mais em uma crise que, no atual cenário, não parece ter uma solução de curto prazo.
Nos últimos anos temos observado o surgimento de uma comunidade de empreendedores que visa revitalizar a economia fluminense. Podemos citar a Juntos pelo Rio, da capital carioca, a Rio Sul Valley, do sul fluminense, e a Planície, do norte fluminense. Seus líderes e empreendedores se organizam politicamente visando renovar a cultura econômica regional, interconectando-se e gerando uma arena de discussão, de formação de opinião, de colaboração e de cooperação técnica, objetivando a diversificação de setores produtivos por meio de novas matrizes tecnológicas.
Sendo nossa economia extremamente dependente da cadeia produtiva do petróleo e considerando que a recente crise evidenciou os efeitos perversos de tal dependência, pensamos que as chamadas “nova economias” – nas quais os empreendedores visam não apenas gerar lucratividade para empresas, mas também resolver problemas do mercado, da sociedade e do setor público – possam gerar um novo ciclo virtuoso com um fortalecimento de nossa esfera pública, uma formação de ecossistemas empreendedores e uma formulação de estratégias inovadoras de desenvolvimento regional. Em um momento em que vivemos tantos problemas, faz-se necessário afirmar que nem tudo é crise, pois existe um empenho criativo e inovador da população em busca de um futuro melhor e mais próspero.
Deixe uma resposta