“(…) Como toda as outras formas de coabitação humana, nossa sociedade liquido-moderna é um dispositivo que tenta tornar a vida com medo uma coisa tolerável. Em outras palavras, um dispositivo destinado a reprimir o horror ao perigo, potencialmente conciliatório e incapacitante; a silenciar os medos derivados de perigos que não podem – ou não devem, pela preservação da ordem social – ser efetivamente evitados. Como ocorre com muitos outros sentimentos angustiantes e capazes de destruir a ordem, esse trabalho necessário é feito, segundo Thomas Mathiesen, por meio do “silenciamento silencioso” (…):
“É estrutural; é parte de nossa vida diária; é ilimitado e portanto está gravado em nós; é silencioso e assim passa desapercebido; e é dinâmico no sentido de que, em nossa sociedade, ele se difunde e se torna continuamente mais abrangente.
O caráter estrutural do silenciamento ‘exime’ os representantes do Estado da responsabilidade por ele; seu caráter quotidiano o torna ‘inescapável’ do ponto de vista dos que estão sendo silenciados; seu caráter irrefreado o torna especialmente eficaz em relação ao indivíduo; seu caráter silencioso o torna mais fácil de legitimar; e seu caráter dinâmico o transforma num mecanismo de silenciamento cada vez mais digno de confiança.”
Zygmunt Bauman. O medo líquido (São Paulo: Zahar, p. 13).

Achado de Maryalua Meyer, livre-pesquisadora em formação do Ateliê de Humanidades e personagem central na sua construção.
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