Projeto – Para quê (teo)poetas? Figuras de uma abertura ficcional das hermenêuticas teológicas

Pesquisador

Sebastião Lindoberg da S. Santos

Tutoria

André Magnelli

Apresentação

A tese inicial de Kuschel, a saber, uma separação entre literatura e religião, consolidada efetivamente a partir do processo de secularização e da “autonomia” da arte literária, ainda que interessante não corresponde a uma realidade que mostra seus pontos nevrálgicos desde o estabelecimento da verdade por Platão e levada à cabo pela Patrística. Aquilo que se convencionou chamar de Teopoética põe em evidência um problema para além da problemática ingênua da ficção que se apropria de questões teológicas.

O que se está em jogo ultrapassa uma mera virtualidade poética para se lançar numa efetividade política. Esse jogo leva a uma reflexão aprofundada dos pretendentes; poetas e legisladores, teólogos e poetas: quais lugares ocupam na criação de valores necessários à uma sociedade? A pergunta kierkegaardiana (o que pode um poeta?) conjugada à heideggeriana (para quê poetas?) fornece, sob uma avaliação contemporânea, novas perspectivas para uma valoração e entendimento substancial do papel heurístico desempenhado pelo universo da ficção no seio de uma efetividade política. Revigorando, ou restabelecendo, o senso de poiesis como entendido pelo Platão de Íon, as reflexões de Kierkegaard e Heidegger parecem corroborar para definir o espaço que o poeta (ficcionalista) ocupa na sociedade, revertendo o estatuto ético platônico substancializado na República e nas Leis.

Ao afirmar, com razão, que a cada dia mais temos o desejo recôndito de fazer da literatura vida (numa espécie de apropriação do Dasein heideggeriano), o escritor lusitano Saramago parece oferecer veredas para um entendimento da poesia não apenas como criadora de novos valores, mas como uma constante revisora, fazendo do poeta, à revelia platônica, aquele que busca transcender sua própria existência não apenas como consciência de si, mas no conhecimento da alteridade. “Poetas em tempos indigentes”, como afirma Heidegger, para além de identificar os vestígios do deuses perdidos, fornecem o campo propício para a ruptura da dogmatização que “petrifica” o mito em términos categoriais, como propunha Hans Blumenberg. Permitir a repovoação do mundo pelos deuses faz do poeta o legislador platônico por excelência que, rejeitando o estabelecimento de uma perspectiva totalitária, busca abarcar a existência humana numa profusão de possibilidades.

Natureza

Projeto de pesquisa individual, desenvolvido no Ateliê de Humanidades e no Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-RJ

por Anders Noren

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