Pontos de leitura. Judaísmo e período persa – apresentação do livro

No contexto da live de lançamento do livro “Judaísmo e período Persa” (Editora Recriar, 2021), organizado por Kenner Terra (professor FUV / núcleo de pesquisa RELEP) e Nelson Lellis (doutorando UFJF / Núcleo de pesquisa CRELIG), disponibilizamos em formato de texto e áudio-leitura a introdução do livro. 

O lançamento se realizará nesta terça, 25 de maio, às 19h, com transmissão pelo Youtube. Faremos uma mesa-redonda que contará, além dos organizadores, com a presença de Brian Kibuuka (Professor da UEFS/ Núcleo de pesquisa NEREIDA / Projeto Eurykleia – ANHIMA/Paris) e de Osvaldo Luiz Ribeiro (professor FUV / pós-doc UFJF).

Aproveitamos a ocasião para divulgar também a nova turma do curso “Moisés: a figura mosaica no Antigo Testamento e hoje)“, de Thiago Pacheco. 



Introdução

Kenner Terra 
Nelson Lellis

O período pós-exílio foi muito importante na história de Israel. Representou o desenvolvimento de complexas e novas perspectivas teológicas e a reconfiguração de identidade, o que estava em marcha desde o exílio. Por essa razão, debruçar-se sobre as influências do mundo persa no período do Segundo Templo já se tornou lugar comum nas pesquisas histórico-sociais do(s) judaísmo(s) antigo(s). À vista disso, a importância do mundo persa na história da fé e cultura judaicas ganha espaço em diversas discussões e publicações nos ambientes especializados nos EUA e Europa. Por outro lado, infelizmente, não podemos fazer a mesma afirmação em relação as publicações no Brasil. Todavia, em 2014, a obra de Erhard S. Gerstenberger, Israel no tempo dos persas: Séculos V e IV antes de Cristo, abriu as portas para novas contribuições em língua portuguesa. 

Esse trabalho nos serviu de inspiração para reunirmos biblistas preocupados com temas específicos em torno da relação entre mundo Persa e Judaísmo antigo e, consequentemente, produção de textos sagrados. Cada capítulo apresenta perspectivas e preocupações independentes, a despeito de contemplarem a mesma temática. Esse tipo de projeto tem seus limites, por conta da sua não sistematização, mas revela-se como importante quadro geral. Além disso, cada artigo possui rica bibliografia que poderá ser consultada em pesquisas posteriores.   

O primeiro capítulo, A promessa a Javé: Constituição da comunidade? (Uma notinha avulsa), é assinado por E. Gerstenberger. O autor propõe interpretar a formação da comunidade a partir da promessa de Javé. A pergunta é se a fé desenvolvida no período persa foi capaz de modificar a visão acerca da promessa sobre o povo exclusivo. 

No segundo capítulo, Brian Kibuuka trabalha a segunda história de Israel. Em 1 e 2 Crônicas à luz do contexto da província de Yehud, o exegeta batista mostra-nos que os cronistas se dirigiram aos seus interlocutores durante o período médio-persa e asmoneu (IV a.C.), recontando “a história de Israel/Judá monárquico em um período de redefinição da identidade religiosa, e das implicações sociopolíticas dessa identidade no período do Segundo Templo”.

Sandro Gallazzi, por sua vez, contribui com o capítulo A Sabedoria e a Lei que subsistem para sempre (Br 1,4). Nesse texto, Gallazzi averiguou como o livro de Baruc reflete a teologia das comunidades da diáspora e, mantendo o templo como realidade simbólica, construiu a relação com os impérios que governaram diferentes regiões no Mundo Antigo.

No quarto capítulo, Nelson Lellis traz como título o Salmo 126: Itinerário cantante do campesinato rumo ao Templo. O texto propõe desenvolver o contexto histórico-social do salmo, possivelmente escrito entre 350-300, a partir de memórias oferecidas pela tradição campesina sob o domínio persa.

Marcelo da Silva Carneiro, no quinto capítulo, discute O Livro de Daniel entre o mundo persa e grego. Nele, o autor defende que, a partir das narrativas produzidas na fronteira entre o mundo persa e grego, os símbolos, imagens e esquemas do livro representam menos a influência grega do que persa, o que parece acontecer também com a literatura apocalíptica posterior. Ao lado de 1 Enoque, Daniel representa uma mudança considerável na estrutura da religião de Javé e produção de textos. 

No sexto capítulo, Kenner Terra trabalhará um recorte da tradição apocalíptica:  Judaísmo enoquita: imaginário persa e o segundo templo. Nesta parte do livro, o autor avaliará criticamente a importância da apocalíptica persa na linguagem e imaginário desenvolvidos no judaísmo enoquita, o qual era ladeado por outros movimentos do Segundo Templo. Como exemplo dessas possíveis interdiscursividades, a estrutura da história humana dividida em eras e a tradição de revelações além-mundo desenvolvidas em textos persas serão comparadas com as imagens e temas presentes em 1Enoque.   

O último capítulo, A República de Judá nas ‘visões’ de Zacarias – porque o poder não é apocalíptico…, escrito por Osvaldo Luiz Ribeiro, defende a hipótese de que as oito visões narradas no livro de Zacarias tratam-se de um “complexo político-ideológico de ‘encenação histórico-teológica’”, cujo objetivo era legitimar as intervenções político-sociais, bem como religiosas, promovidas pela golah sob o Império Persa.

Esta coletânea pretende destacar a importância da teologia, imaginários, textos e contexto social persas na história de Judá. Nossa preocupação, obviamente, não é esgotar o assunto, mas, pelo contrário, provocar novas contribuições a fim de preencher a lacuna existente nos estudos bíblicos a respeito desse fundamental período da história de Israel/Judá. 

Desejamos uma ótima leitura.  

Tem interesse pelo livro?
Faça contato com os organizadores:
nelsonlellis@gmail.com  

Sumário

Introdução

Cap. 1

A promessa a Javé: Constituição da comunidade?

(Uma notinha avulsa)

Erhard S. Gerstenberger

Cap. 2

1 e 2 Crônicas à luz do contexto da província de Yehud

Brian Kibuuka

Cap. 3

A Sabedoria e a Lei que subsistem para sempre (Br 1,4)

Sandro Gallazzi

Cap. 4

Salmo 126

Itinerário cantante do campesinato rumo ao Templo

Nelson Lellis

Cap. 5

O Livro de Daniel entre o mundo persa e grego

Marcelo da Silva Carneiro

Cap. 6

Judaísmo enoquita: imaginário persa e o segundo templo

Kenner Terra

Cap. 7

A República de Judá nas “visões” de Zacarias

– porque o poder não é apocalíptico…

Osvaldo Luiz Ribeiro

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